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VIVALDO MONCORVO, A ALMA DO ITABUNA E DOS POLÍTICOS

VIVALDO MONCORVO, A ALMA DO ITABUNA E DOS POLÍTICOS

Por Walmir Rosário*
Figura folclórica já incorporada a Itabuna e região cacaueira, o radiotelegrafista Vivaldo
Moncorvo, nascido em 10 de março de 1925, em Senhor do Bonfim (Bahia), veio para
substituir um colega em férias na agência dos Correios e Telégrafos, aqui desembarcando
no dia 28 de julho de 1958 (dia da Cidade). Gostou da festa e não saiu mais. Tornou-se
um itabunense por adoção.
Esportista convicto, Moncorvo sempre participou ativamente dos jogos de futebol,
principalmente quando o assunto era a Seleção Amadora de Itabuna, hexacampeã
intermunicipal. Com a fundação do Itabuna Esporte Clube e sua entrada no
profissionalismo, Moncorvo torna-se ainda mais famoso ao chefiar a charanga que
embalava a equipe azul e branca.
Não há em Itabuna e região um político ou desportista que não conheça Vivaldo
Moncorvo, cuja fama ultrapassa as fronteiras regionais e foi citado em vários jornais de
circulação nacional e até no estrangeiro ao entregar um trombone ao seu amigo Antônio
Carlos Magalhães, durante um evento em Ilhéus. Foi a glória. Passou a ser amigo de todas
as horas de ACM.
Na verdade, sua amizade com ACM teve início em 1955, ainda na cidade de Bonfim,
quando atendeu a um pedido de Ângelo Magalhães, tesoureiro dos Correios, para que
desse uma ajudazinha na campanha do irmão. Em 1966, Moncorvo e ACM voltam a se
encontrar, desta vez em Itabuna, durante a campanha para deputado federal. Estava
selada uma amizade para o resto da vida, inclusive com Luiz Eduardo Magalhães.
Sempre que muitos políticos importantes solicitavam a Moncorvo uma “mãozinha” quando
havia um assunto a tratar com ACM, ele nunca deixou um seu pedido sem atender. O
primeiro e talvez o mais importante deles se deu ainda durante a construção do estádio
Luiz Viana Filho, em 1973, durante a administração do prefeito Simão Fitermann, diante
da dificuldade em receber os recursos necessários para concluir a primeira fase das
arquibancadas do estádio.
Diante do pedido, Moncorvo embarca num ônibus da Sulba com a missão de conseguir
junto ao Secretário do Bem-Estar Social, Bernardo Spector, 250 mil (ou milhões de
cruzeiros, dinheiro da época). Missão cumprida. Finalmente Armando Andrade pode
concluir a obra. Moncorvo, homenageado, plantou o último pé de grama do estádio Luiz
Viana Filho, na data histórica de 9 de abril de 1973.
A amizade de Moncorvo e ACM ficou ainda mais consolidada após a acachapante derrota
para Waldir Pires, em 1986. Nesse período, ACM ainda curtia sua grande derrota na Ilha
de Itaparica, e somente recebia os seus seguidores mais fiéis, a exemplo do cantor,
compositor e comerciante do Mercado Modelo, Chocolate da Bahia, também derrotado nas
urnas como candidato a deputado federal. Grande entendedor do clamor das ruas,
Chocolate pressentiu que o governo de Waldir Pires não iria a lugar nenhum e iniciou a
composição de umas músicas de campanha para o retorno triunfal de ACM.

Ao ir à Ilha de Itaparica mostrar as composições, foi rechaçado pelo político, que não
acreditava mais no seu retorno à vida pública. Indisposição essa que foi desfeita seis
meses depois, quando ACM mandou chamar Chocolate para gravar a música “Você se
lembra de mim”. Coube a Moncorvo e sua charanga a primazia de tocá-la numa das
primeiras viagens feitas por ACM ao interior.
Além da música “Você se lembra de mim” também foram gravadas “A Bahia vai bem”, “A
vitória que a Bahia quer”, entre outras tocadas pela brava charanga de Moncorvo, inclusive
em Salvador. Na capital, a cada aniversário de ACM, Moncorvo lá estava presente com sua
charanga em frente ao apartamento, devidamente despachada por Manuel Leal e com a
incumbência de acordar o “chefe” no dia 4 de setembro com uma grande alvorada. E o
repertório ainda incluía “Amigo” de Roberto Carlos.
Em 6 de janeiro de 1981, no auditório do antes glorioso Conselho Nacional dos Produtores
de Cacau (CNPC), ACM discursava se dizendo um homem realizado, pois nada lhe faltava,
já que tinha ocupado todos os grandes cargos públicos, no que foi retrucado em voz alta
pelo amigo Moncorvo:
– Falta, sim, chefe, ser presidente da República – gritou.
O cargo lembrado por Moncorvo, por ironia do destino, foi ocupado por ACM (quando
presidente do Senado, numa viagem de Fernando Henrique Cardoso ao exterior), sem
nunca ter sido eleito como o maioral do executivo da República.
Vivaldo Moncorvo morreu em 26 de fevereiro de 2016, prestes a completar 91 anos.


*Radialista, jornalista e advogado

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