SÓ O BOTAFOGO SALVA A SELEÇÃO BRASILEIRA

Por Walmir Rosário*
“De repente é aquela corrente pra frente, parece que todo o Brasil deu a mão”.
Esse trecho do hino da Seleção Brasileira tricampeã de 1970, composto por
Raul de Souza e Miguel Gustavo, dormiu eternamente em berço esplêndido por
muitos anos. E sabe o motivo: a falta de jogadores do Botafogo na Seleção
Brasileira. Isto fez com que ela se tornasse um azarão.
Mas agora – quem sabe? –, voltaremos a cantar: “Todos unidos na mesma
emoção, tudo é um só coração. Todos juntos vamos, pra frente Brasil, salve a
seleção”. Essa é uma pequena amostra da volta de jogadores da Estrela
Solitária à seleção canarinho, decretada pelo técnico Dorival Júnior. No primeiro
jogo, 2X1 aplicados contra a seleção chilena, sem dó nem piedade por Igor
Jesus e Luiz Henrique.
Realmente, têm coisas que somente acontecem com o Botafogo, seja de forma
positiva ou negativa. Eu até entendo esse boicote contra o Glorioso de General
Severiano, liderados, principalmente, pelos rivais cansados de apanhar. Diria
até desmoralizados em campo com goleadas acachapantes. Não são obrigados
a reconhecer a grandeza do Botafogo, mas pelo menos respeitem.
A magia do Botafogo é real e isso está escrito dentro das quatro linhas do
Maracanã, de Guadalajara, México, Copenhague, Santiago, e outros tantos
estádios que os jogadores do Glorioso atuaram pela nossa seleção. Vocês se
lembram de Garrincha, Nilton Santos, Didi, Gerson Canhotinha de Ouro, Zagalo,
Amarildo e tantos outros? Era assim que nossa seleção funcionava.
Quem mais cedeu jogadores em copas do mundo que o Botafogo? Nenhum,
apesar do boicote que durou anos. Mesmo assim, 47 jogadores foram cedidos à
seleção brasileira, sem contar aos selecionados da Venezuela, Argentina,
Uruguai e por aí a fora. Mas as estatísticas colecionam ainda 10 jogadores
diferentes que marcaram gols nos últimos 50 anos.
E o Botafogo quebra mais um tabu aos demonstrar que nosso selecionado pode
ganhar sem precisar convocar os jogadores por acordo com o prestígio de seus
empresários. Bastou Igor de Jesus e Luiz Henrique cravarem dois gols e os
brasileiros voltarem a acreditar. E aí, sim, voltaremos a cantar “Noventa milhões
em ação, pra frente Brasil do meu coração”, por mais 110 milhões de
brasileiros.
Na Copa de 1958, na Suécia, três jogadores da Seleção Brasileira faziam a
diferença dentro e fora de campo: Nilton Santos, Didi e Garrincha. Na partida
final contra a Suécia, dona da casa, o Brasil sofre o primeiro gol. Uma ducha de
água gelada! Mais eis que Didi vai até o gol defendido por Gilmar, pega a bola e
calmamente se dirige ao meio do campo e diz: “Calma vamos ganhar”. E
ganhamos por 5X2. Didi é eleito o craque da Copa. Apenas isso!
Mais uma vez vou refrescar a memória do torcedor brasileiro com os jogadores
do Botafogo, desta vez na Copa de 1962, no Chile. A Espanha ganhava do
Brasil por 1X0, quando Nilton Santos, a “Enciclopédia do Futebol”, derruba
Enrique Collar na grande área. Seria um pênalti, se nosso lateral-esquerdo não
desse um passinho pra frente e levantasse os braços. Falta fora da área.
Nesse mesmo jogo, um jogador da constelação de astros do Botafogo,
Amarildo, que substituía Pelé, contundido no jogo contra a Tchecoslováquia,
marcou os dois gols que viraram o placar. E eram cinco jogadores titulares
naquela seleção, que contava com Nilton Santos, Didi, Garrincha, Amarildo e
Zagallo. A seleção sequer precisava gastar tempo em treinamentos táticos.
Até esse jogo contra o Chile (2024), o Botafogo se colocava em primeiro lugar
na cessão de jogadores para a Seleção Brasileira, com 47 jogadores. Agora
somam 50, com Igor Jesus, Luiz Henrique e Alex Telles. Quando quase
ninguém acreditava na seleção, eis que o Botafogo ressurge e ganha dos
chilenos. Com isso, sai do sétimo lugar e sobe para a quarta posição.
Não apenas ganhou fôlego para a próxima, mas dá ânimo aos jogadores e
torcida, que acreditam que nem tudo está perdido no “reino da CBF”. Mais que
vencer, a mística botafoguense mexe na estatística mostrando que pela quarta
vez o Brasil venceu o Chile, no mesmo estádio e com mais de um gol marcado
por jogadores do Glorioso.
Para os que não gostam ou simplesmente ignoram a história, vamos para a
Copa do Mundo de 1970, no México, quando trouxemos o “caneco” Jules Rimet
em definitivo, para casa. Imaginem o criatório de cobras do Botafogo na
Seleção: Jarzinho, Roberto Miranda e Paulo Cezar, o técnico Zagallo, além do
zagueiro Leônidas e o ponta-direita Rogério (lesionados e cortados do elenco).
Não resta a menor dúvida de que um componente essencial para vencer uma
copa do mundo é a convocação dos jogadores do Botafogo, que hoje disputa
três certames diferentes: o Campeonato Brasileiro, a Taça Libertadores da
América, e agora a Classificação do Brasil para a Copa do Mundo. Mas fiquem
tranquilos, pois saberemos dar conta do recado, e bem direitinho.
E digo isso, pois minha estrela é mais que solitária, é altaneira como a
constelação que sempre foi o Botafogo. E o botafoguense, mais que outro
torcedor, sabe diferenciar a emoção dos números frios da estatística da paixão.
Nada melhor do que ganhar bem, no campo. Perder é apenas uma
consequência que faz parte do futebol.
Só quem é botafoguense sabe ver nesse esporte uma paixão. É só dar uma
olhada nos craques que nos deram alegria na Seleção Brasileira, desde que
existe Copa do Mundo. Não canso de contar os 47 que já fizeram história nas
copas do mundo até hoje e os três que prometem recolocar nossa seleção no
pedestal que merece.
E veio o Peru. Morreu de véspera! Bastou entrar no Estádio Mané Garrincha,
tomou um 4X0, com o último prego no caixão batido pelo botafoguense Luiz
Henrique. Realmente, tem coisas que somente acontece com o Botafogo! E
assim voltaremos a cantar, em alto e bom som: “Todos juntos vamos pra
frente, Brasil! Salve a seleção!”.
*Radialista, jornalista e advogado.