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PERDIDOS QUE SÓ PASSARINHOS APÓS INCÊNDIO NA FLORESTA

PERDIDOS QUE SÓ PASSARINHOS APÓS INCÊNDIO NA FLORESTA

Já causa entre os confrades um terrível mal-estar o fechamento temporário da Confraria
d’O Berimbau, por conta dos cálculos malfeitos do presidente Zé do Gás, para o desespero
de toda a fauna. Apesar das diversas visitas técnicas, feitas semanalmente pelos
confrades, as obras não andam e a reinauguração é adiada constantemente para a
infelicidade e o mal-estar dos confrades.
A cada visita técnica são analisados o andamento das obras, os equipamentos ainda em
fase de instalação e outros que nem pensados foram, mas que serão incluídos na nem tão
extensa lista. Na última visita, a questão mais debatida foi a localização da pia da cozinha,
esquecida no projeto original e consertado recentemente pelos “arquitetos” presentes, que
ainda sugeriram a instalação hidráulica exterior, método considerado não invasivo.
Também foi merecedora de profunda análise a localização do fogão, que se apresentará
semanalmente aos confrades ao lado da pia e próximo ao freezer, num projeto bastante
funcional, digno de um prêmio internacional de decoração. Para chegar ao consenso não
foi fácil e diversas exposições técnicas foram realizadas, descartada a que declarava a
inconstitucionalidade da vizinhança do fogão ao freezer, pela diferença de temperaturas.
Como não tenho know how em grandes obras, me contentei a assistir aos debates com
muita atenção, ouvindo muito e falando pouco, exceto uns dois ou três pitacos por conta
do exíguo prazo de reinauguração. Ata lavrada e assinada, à saída da obra verificou-se
que faltava lugar para o botijão de gás e com a providencial ajuda de uma mangueira
mais comprida o problema seria sanado.
Realmente cheguei a conclusão de que essas visitas técnicas são essenciais ao bom
andamento dos serviços de requalificação (nome bonito usado pelos políticos numa
operação tapa-buracos) de um clube privado, no qual admite-se apenas alguns poucos
convidados, após análises dos currículos. Estou extasiado com o aprendizado e já não me
aperto na concepção de um projeto arquitetônico de maiores dimensões.
Os confrades apresentam um método didático simplificado de dar inveja aos mais
renomados pedagogos, com todas as nuances debatidas exaustivamente, dentro da mais
moderna metodologia e tecnologia da educação. A começar pelos equipamentos
pedagógicos utilizados, a exemplo da observação, dedução e consumo de estimulantes à
base de malte, lúpulo e cevada, antecedido por uma boa cachaça.
Mas não pensem os senhores que os confrades são simples engolidores de bebidas! Nada
disso, faz parte do cardápio a alta e rica gastronomia, com a assinatura do presidente Zé
do Gás, guardada a sete chaves pelo pessoal de Cícero Dantas, com as bençãos de Nossa
Senhora do Bom Conselho. Uma costela assada no forno num dia, um mocofato no outro,
sarapatel para diversificar e por aí afora.
Não sabia eu que essas comilanças tivessem o dom de fazer bem para os neurônios da
mesma forma em que se prestam para encher a barriga entre uma golada e outra de
cerveja bem gelada. Aos poucos, vai clareando a mente e despontando as atividades

artísticas em quem jamais alisou um banco da faculdade de arquitetura ou tenha pendores
para a decoração de ambientes.
Mas o assunto é sério e merece ser dito que nem sempre é possível engrenar uma visita
técnica e a solução mais viável é sair à procura de um novo abrigo num dos poucos
botecos da cidade, até chegar o dia da inauguração. Com o decreto da proibição de
encontros etílicos em ambientes externos (acho que para facilitar a infecção em ambientes
fechado, o refúgio do Mac Vita fica inviável.
Ainda bem que fomos acolhidos no bar Lajinha, com as honras do anfitrião Ednei – a
começar pelo álcool em gel –, para dar cabo a mais uma assembleia conjunta do Clube
dos Rolas Cansadas e da Confraria d’O Berimbau. Do contrário, nos comportaríamos que
nem os passarinhos perdidos após o incêndio na floresta, ou os clientes de o ABC da
Noite, em Itabuna, quando o Caboclo Alencar resolve tirar férias.
Sabedor que rondávamos o Mac Vita em busca de pouso, Valdemar Broxinha, escondido
no seu recanto bucólico a fazenda Caqueiro, também conhecida como Sítio Jequitibá,
pediu à esposa que nos mandasse um whatsapp com a seguinte recomendação.
“Reunidos no aconchego apertado do Mac Vita, comendo a mesma comida, bebendo a
mesma bebida e respirando o mesmo ar. Comportamento, no mínimo irresponsável de um
grupo de velhos amigos malucos. Um abraço e muita sorte pra todos”.
Não sabia o velho Broxinha que a experiente garotada já se encontrava em outro ninho.

Por Walmir Rosário

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