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O QUE SERÁ DOS NOSSOS NETOS E BISNETOS?

O QUE SERÁ DOS NOSSOS NETOS E BISNETOS?

Ramiro Aquino
Em conversa recente com um amigo e ele levantou uma questão que, aparentemente,
foge aos problemas regionais: Qual será o futuro dos nossos netos e bisnetos? Esse
amigo, com quase 80 anos, demonstrava uma real preocupação com o futuro de Itabuna
e da região sul da Bahia.
Ele reconhecia que sabia que os problemas que enfrentamos não são de origem
puramente regional, mas não estávamos tendo força nem iniciativa para mudar o quadro.
Levantava, ainda, as questões dos nossos índices econômicos e sociais e nos via sem
futuro, em palpos de aranha. Não havia incentivo dos governos e os municípios estavam
fechando as suas portas e jogando a chave fora.
Lembrou ele, que quando buscava o seu primeiro emprego, no início da década de 60,
ainda na adolescência, por volta dos seus 18 anos, que a região era outra e as
perspectivas eram, de certo modo, alvissareiras. “Aquela região de Itapé, Itaju do Colônia,
onde agora se construiu a barragem, chegou a abater uma enorme quantidade de bovinos
por mês e hoje não abate nem dez por cento”.
Nesta terra foram produzidos advogados, engenheiros, arquitetos, médicos, dentistas,
jornalistas, professores e até políticos, todos brilhantes, para ficar somente numa meia
dúzia de personalidades e profissões. Emancipada em 1910, 20 anos depois, Itabuna
deixou de ter Intendência e teve o seu primeiro prefeito, em 1930, que foi Glicério Esteves
de Lima.
Lembrou, ainda, esse amigo, que tivemos produção de cacau que gerava milhares de
empregos na roça, por força da produção e na cidade, pelos mesmo motivos. O cacau, à
época, tinha preço e produção. “Quantos armazéns de cacau tínhamos por aqui? Na nossa
principal avenida comercial, a Cinquentenário, viam-se muitos caminhões carregando o
produto com destino ao porto de Ilhéus”.
Os netos e novos empreendedores do cacau ensaiam ainda uma produção mais moderna,
o cacau gourmet, mais refinado, as ainda incipientes fabriquetas de chocolate artesanal,
que vem dando certo. O chocolate continua a ser uma alternativa e existem até
exposições.
Terra do já teve
Os bancos, eram mais de 12 somente na J. J. Seabra e Sete de Setembro (a partir de
1960 com o nome de avenida do Cinquentenário), financiando os custeios das fazendas,
máquinas e investimentos na agropecuária. Quem não lembra dos bancos de
Administração, Banorte, Baiano da Produção, Nacional e tantos outros. Hoje restam
apenas os bancos oficiais como os do Brasil, Caixa Econômica, Nordeste e chegaram os
ousados Bradesco e Itaú.
Chegamos a ter cinco cinemas, hoje só há o do Shopping. Víamos dos western aos
picantes filmes franceses e os tradicionais americanos que contavam histórias de aventura
e amor. Pululavam lojas e boutiques locais, muitas boates, casas de show, clubes sociais

eram cinco ou seis onde se divertiam desde as classes mais abastadas àquelas de média e
baixa renda, como os elitistas Grapiúna Tênis Clube (hoje nem tanto) e Itabuna Clube e os
mais modestos, como os do Pontalzinho, Mangabinha, Conceição, etc.
Já tivemos ao mesmo tempo mais de uma casa da prática do boliche, as festas
memoráveis produzidas pelas famílias de renome na sociedade, os jornais que nasceram
com a transformação da vila em cidade (e já os tínhamos antes mesmo de 1910) e as
emissoras de rádio que vieram a partir da metade da década de cinquenta, com a Rádio
Clube, em 1956.
E quase nos esquecíamos. O futebol que se praticava por aqui era do melhor nível. Na
década de 40 saíram oito jogadores do futebol local, mais precisamente da Associação
Atlética Itabunense, para o modesto Guarani, da capital, que conquistou o único título de
sua história. Já tivemos Flamengo, Fluminense, Janízaros, Grêmio, a base de uma seleção
que conquistou o Hexa Campeonato de Futebol Amador. Uma seleção de craques como
Luiz Carlos, Plínio, Ronaldo, Santinho, Tombinho e os irmãos Riela, a maioria já falecida. E
o Santos de Pelé levou Betinho, em fins da década de 60, que por bebedeira não deu
certo e morreu anos depois pobre e esquecido.
E o futuro?
“A esperança que viria com a evolução do ensino”, continua o nosso amigo, “não adiantou
muito. Universidades e Faculdades trouxeram uma educação escolar apenas razoável, ao
nível da maioria de outros centros do mesmo porte. Como confiar nos profissionais, com
exceções, que estão sendo colocados no mercado todos os anos?”
As famílias, hoje empobrecidas, que no século passado mandavam seus filhos estudarem
nos grandes centros como Rio, São Paulo, Salvador e em cidades da França, Inglaterra e
Alemanha, se conformaram em colocar os meninos e meninas nas escolas regionais de
ensino superior.
O que se pede hoje ao Estado e a União é que venham incentivos mais pontuais que
coloquem a educação, a saúde, o conhecimento geral, como prioritários. Não adianta
construir escolas, hospitais, creches e entregá-las a municípios falidos, que estão fechando
as portas se quiserem sobreviver. E depois disso tudo veio o vírus da Covid-19
Por fim, há que se fazer aquela pergunta que dá título a este artigo. Quem souber
responder que o faça:
“Qual será o futuro dos nossos netos e bisnetos?”

() Comunicador. Assessor de Imprensa. Presidente da ABI SUL

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