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O NEGÓCIO CACAU E A GUILHOTINA DOS BANCOS

O NEGÓCIO CACAU E A GUILHOTINA DOS BANCOS

Por Walmir Rosário
De vez em quando a mídia regional concede um espaço para a cacauicultura, nem sempre
com a generosidade que merece a principal matriz econômica do Sul da Bahia, que há
muito tenta se reerguer do golpe sofrido na segunda metade da década de 1980, causado
pela introdução criminosa da vassoura de bruxa. Uma matéria aqui, outra ali, sempre
abordando bons exemplos individuais, nunca tratando do sistema por inteiro.
Antes, quando a Ceplac ainda tinha “bala na agulha”, ganhava manchetes principais com
frequência maior ao divulgar resultados positivos de pesquisas, recorde ou queda de
produção, melhoria na qualidade da amêndoa. Por várias vezes essas manchetes também
ocupavam as primeiras páginas dos veículos de circulação nacional estampando a
presença de presidentes, ministros, governadores e parlamentares com promessas.
Promessas vãs, é bom que se diga. Chegam, visitam a Ceplac, uma fazenda de cacau,
consideram injusto o tratamento dado ao cacauicultor, fecham o discurso com duas frases
de efeito e voltam a Brasília. O tempo passa e as promessas se revelam simples e
corriqueiros contos de fadas, haja vista a falta de representatividade política a região que
outrora se orgulhava de produzir os frutos de ouro.


Não seria verdadeiro colocar toda a culpa dos problemas do cacau nas costas dos
políticos, pois parte dela deve ser creditada às lideranças regionais e aos eleitores,
acostumados a dar o seu voto a políticos totalmente alheios à economia regional. Há
muito que prego um basta nesse atávico estranho comportamento, justificável antes,
quando ainda éramos ricos e desprezávamos a política. Hoje, não.
Me causou surpresa – nesta época em que se fala muito no fim das instituições de
pesquisas e extensão – o caminho em outra direção tomado pelo empresário Valderico
Júnior, presidente do Democratas de Ilhéus. Acompanhado dos deputados federais Leur
Lomanto Júnior e Efraim Morais Filho, ele participou quarta-feira (16), em Brasília, de
reunião com a ministra da Agricultura, Tereza Cristina.
E o tema do encontro era justamente o negócio cacau e os penduricalhos que dificultam o
desenvolvimento dessa tradicional cultura, que ainda hoje se destaca pela liquidez em sua
comercialização, o que não acontece com outras culturas. Se temos esse handicap
favorável, estamos aprisionados a pesados grilhões como a dívida dos produtores junto
aos bancos, grande parte oriunda de recursos do Tesouro ou bancos públicos.
O esforço que vem sendo empreendido por Valderico Júnior não se prende a dar
vantagens gratuitas ao produtor de cacau, e sim a equalização das dívidas contraídas
durante planos de recuperação da lavoura cacaueira, praticados com recursos caros e
tecnologia incipiente para o combate ao fungo da vassoura de bruxa. O cacauicultor não
pode ser condenado à guilhotina certeira dos juros extorsivos ainda cobrados.
Na economia não há milagres e sim propostas, estudos de solução dos problemas,
centrados no diálogo e viabilidade. Disposição para tanto a ministra Tereza Cristina tem de
sobra, pois é acostumada a esse tipo de debate com o Banco do Brasil e com o Ministério

da Economia, na busca de solução para os problemas da agricultura. Numa composição
justa, ganham bancos, a União e milhares de cacauicultores retomam a plena produção.
Propostas viáveis para a recomposição das dívidas dos cacauicultores são bastante
conhecidas do governo federal, defendidas pela Câmara Setorial do Cacau, por meio do
presidente Milton Andrade Júnior. Receptiva à reivindicação, a ministra prometeu estudar
com os técnicos uma saída que agrade as partes, em curto prazo, para tornar possíveis
novos investimentos.
A ação do empresário Valderico Júnior vai além de beneficiar o setor cacaueiro, haja vista
que trará reflexos positivos em toda a economia de uma região que compreende parte do
Recôncavo, e todo o Sul e extremo sul da Bahia. Se antes – de modo equivocado – o
cacau era considerado uma cultura de poderosos, hoje também é o carro-chefe da
agricultura familiar, que também poderá investir mais na cacauicultura e outros cultivos.
Incentivar o retorno pleno da produção de cacau com a moderna tecnologia disponível é
hoje a medida mais eficaz para produzir um chocolate de primeira qualidade,
comercializados a preços superiores. A nova cacauicultura poderá, ainda, contribuir para
que o campo receba de volta parte dos migrantes que atualmente mora – sem qualquer
dignidade – a inchada periferia das grandes cidades.
Que o exemplo dado pelo empresário Valderico Júnior se torne uma nova opção no
tratamento da política e da economia com a seriedade que merecem, pois produzirão
resultados altamente benéficos para toda a sociedade. A política e a economia precisam
caminhar lado a lado, ainda mais quando se trata de equacionar problemas que travam a
distribuição de riquezas oriundas da agropecuária.

Radialista, jornalista e advogado

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