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O BOTAFOGO DE RODRIGO CONTRA O BAHIA DE ITAJUÍPE

O BOTAFOGO DE RODRIGO CONTRA O BAHIA DE ITAJUÍPE

Por Walmir Rosário*
A disputa entre o Botafogo do bairro Conceição e o Bahia de Itajuípe – em 1958 – foi
considerado o jogo do ano na região cacaueira. A partida não valia por nenhum
campeonato, ou torneio, mas resolveria uma aposta no valor de Cr$ 30 mil (moeda
daquela época), uma quantidade de dinheiro suficiente para resolver o problema
financeiro de qualquer um vivente. E esse desafio animou a torcida de toda a região.
A aposta foi feita entre o executivo do jogo do bicho, Sílvio Sepúlveda, ex-goleiro do
Botafogo, cartola e frequentador assíduo dos jogos da desportiva, onde ficou famoso por
suas apostas, e Osvaldo Gigante, cartola do Bahia de Itajuípe. A todos Sílvio desafiava,
dando gols de vantagem, e quem retrucasse dizendo que preferia apostar no clube
proposto por ele, recebia outra resposta na mesma hora:
– Dou dois pra um – e Sílvio finalizava a pendenga.
Num jogo amistoso, o Bahia de Itajuípe caiu na besteira de ganhar do Botafogo de
Rodrigo Antônio Figueiredo, o que para Sílvio teria sido apenas um pequeno acidente de
percurso. Afinal, o Bahia, um time com uma dúzia de pernas de pau não poderia ser
superior à equipe alvinegra com Patuca, Pedrinha, Dal (Tarzan), Pintadinho, Afrânio,
Jonga, todos craques de primeira linha. Só uma revanche resolveria a pendenga.
Feita a aposta, dinheiro casado, o jogo foi marcado para 15 dias depois, tempo suficiente
para arregimentar torcedores de toda a região. No domingo aprazado, o campo da
Desportiva estava superlotado com as caravanas vindas de Itajuípe, Coaraci, Itapé, Ilhéus
e até de Vitória da Conquista. Jogo duro, mastigado, jogadores seguindo à risca as
recomendações de Sílvio Sepúlveda, pródigo nas recompensas pelas vitórias que lhe
interessavam.
Apesar das bravatas de Sílvio Sepúlveda contra o Bahia de Itajuípe e seus jogadores, a
equipe era um timaço e fazia valer os 90 minutos de uma partida e era muito raro perder
para os times da região. As equipes de Itabuna sempre recorriam aos jogadores de
Itajuípe e alguns deles prestaram relevantes serviços à Seleção de Itabuna durante a
jornada que culminou no Hexacampeonato de Amadores da Bahia.
Mas para Sílvio Sepúlveda isso pouco importava. Para ele, desafiar um time que defendia
era uma falta de respeito, quanto mais provocar o Botafogo, o Glorioso do bairro da
Conceição…era um crime inafiançável. Para resolver essa malquerença nada mais justo do
que tirar a prova dos noves fora em outra partida no campo da Desportiva. E, ainda por
cima, com a aposta, que parte seria distribuída entre os jogadores. E assim foi feito!
Apesar dos esforços dos botafoguenses, o primeiro tempo terminou com o placar de 2X0 a
favor dos visitantes, para o desespero de Sílvio e da torcida local. No vestiário, a preleção
foi uma verdadeira aula de como virar o jogo e ganhar, de lambuja, outros Cr$ 500,00 de
troco. Bastava umas duas substituições e mandar o time encarar o Bahia de homem pra
homem, como deveria ser.

A vitória viria normalmente, pois era uma moleza jogar com aquele adversário, segundo
Sílvio, esclarecendo que bastaria Patuca segurar a defesa, Pedrinha controlar o meio de
campo, abrir pra Jonga e enfiar a bola nos pés de Pintadinho, Afrânio e Esquerdinha. O
resultado era a bola no fundo do gol e sair para o abraço. E quando Sílvio Sepúlveda
falava era para ser obedecido, ainda mais com o aval do presidente Rodrigo Bocão.
Dito e feito. No segundo tempo entra Robertão e marca o primeiro gol aos 35 minutos;
Afrânio fez o segundo e, para o delírio da torcida, aos 42 minutos, próximo do fim do jogo,
Esquerdinha recebe um lançamento de Pedrinha e enfia o terceiro gol no Bahia de
Itajuípe. A fatura estava liquidada. Assim que chegaram ao vestiário o “bicho” pela vitória
foi pago e os jogadores e comissão técnica foram comemorar no Elite Bar e no Café das
Meninas. Uma noite de grande festa.

Pedrinha
Um dos melhores jogadores de meio-campo de Itabuna foi Pedrinha, ou Antônio
Gonçalves de Oliveira, jogador do Botafogo de Rodrigo, do Fluminense, dentre outros
times. Famoso pelos seus lançamentos e a tabelinha que fazia com Mundeco, era de estilo
clássico e atuava com responsabilidade. Essa equipe de 1958, da qual fez parte, é
considerada como uma das melhores da história esportiva de Itabuna.
Pedrinha deixou de jogar, mas não abandonou o futebol e se tornou um grande
colecionador de fotos de equipes esportivas, colaborando nas edições especiais do Jornal
Agora, nos aniversários de Itabuna. Antônio Gonçalves de Oliveira (Pedrinha) morreu em
outubro de 2021, aos 85 anos de idade, muitos deles dedicados ao futebol amador de
Itabuna, deixando saudosos os que o conheceram.

*Radialista, jornalista e advogado

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