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NAVEGAÇÃO DE CABOTAGEM PELOS MANGUEZAIS CANAVIEIRENSES

NAVEGAÇÃO DE CABOTAGEM PELOS MANGUEZAIS CANAVIEIRENSES

Por Walmir Rosário
Eu tinha a simples percepção que essa viagem não daria certo, apesar de ser uma pessoa
otimista que sempre acredita nas coisas novas, mesmo quando experimentais,
principalmente quando vislumbro aventura. Além do mais, pelo cenário pictórico dos
manguezais, com suas plantas exuberantes, deixando à mostra suas enormes raízes e
folhas, numa viagem emocionante pelos canais fluviais entre Canavieiras e Belmonte.
Minha apreensão não se prendia às qualidades e habilidade do piloto da lancha,
marinheiros acostumados às constantes viagens de turismo ou simples transportes entre
essas duas cidades, encantando seus passageiros. Conhecimento da área não faltam aos
experimentados marinheiros, que sabem – sem consultar o Google ou os livros – os
horários das marés, os ventos e outras intempéries.
Buscam, sempre, o “mar de Almirante”, para deixar à vontade seus clientes, ávidos por
fotos e filmes com a exuberante paisagem e fauna, buscando emoções nas imagens, em
que caranguejos e guaiamuns se transformam em artistas de cinema, mais, ainda,
verdadeiros astros. Pegar o voo de uma garça, então, é a glória, que dirá os saltos de
peixes e a paisagem bucólicas das casas dos pescadores e agricultores.
Mais essa viagem não seria apenas um simples translado de Canavieiras a Belmonte,
cidades tão próximas que, às vezes parecem distantes. O percurso, feito em apenas 40 a
50 minutos, a depender das condições de navegabilidade, seria feito com esmero. E para
garantir a segurança dos Irmãos, não teria comandante mais gabaritado do que Raimundo
Antônio Tedesco, versão canavieirense de Vasco Moscoso de Aragão, Capitão de Longo
Curso.
Nomeado comandante da aventura, tratou de vasculhar sua vasta biblioteca, na qual
pesada bagagem literária proporcionam conhecimento sobre o planeta terra, e as diversas
galáxias nesse vasto universo. Mãos à obra, tratou de vasculhar toda a literatura sobre a
tábua de marés, assoreamento dos rios, mudança de rota e percursos causadas pelas
correntes marítimas.
Após vasta consulta, eis que seu Raimundo Tedesco decidiu que o melhor horário seria
sair às 8 horas, já com sol quente e maré alta. Um dia depois descobriu, na sua bagagem
literária, que o horário mais prudente era às 10 horas, nem um minuto a mais ou a
menos. Com ares de especialista em oceanografia, englobando aí, rios e canais
navegáveis, foi passar as coordenadas ao experiente marinheiro.
Mapas, livros, bússola, astrolábio, quadrante e balestilha, nosso Comandante de Longo
Curso passa a explicar ao marinheiro a importância de sair no horário, para aproveitar a
maré e evitar contratempos, alguma árvore de mangue caída no canal. Foi quando, de
forma paciente, o homem do mar que conduziria a lancha explicou que no sábado (23), a
maré boa para a viagem seria ao meio-dia e não às 10 horas, como queria Tedesco.
Nova ordem repassada aos inexperientes viajantes Batista, Ériston e Júnior Trajano, que
prometeram não atrasar a viagem. Exemplo inédito veio de Batista, que passou a sexta-

feira a pão e água, prometendo acordar cedo, temendo causar atraso e provocar
dissabores. Afinal, alertou o Comandante de Longo Curso Tedesco, não se sabe quando o
mar fica escrespado, causando as terríveis tormentas conhecidas nas velhas e clássicas
enciclopédias mantidas com todo o zelo na biblioteca do estudioso Tedesco.
Com ar professoral, o Comandante de Longo Curso desfiou uma longa história sobre sua
experiência em jornadas por rios e mares, a exemplo da expedição que planejou há cerca
de 50 anos, ainda nos tempos em que Buerarema se chamava Macuco. Pretendia o ainda
jovem marinheiro, embarcar numa canoa no ribeirão Macuco, continuar pelo Itararé, até
alcançar o Santana no Rio do Engenho e chegar à baia do Pontal.
Outra opção era chegar à serra do Serrote, descer o rio Sapucaeira e chegar ao rio Acuípe,
aportando bem ao Sul de Olivença, no oceano Atlântico, próximo a uma aldeia dos índios
Tupinambás. Entretanto, o projeto não foi à frente por falta de patrocínio e, aconselhado
pelos amigos e professores Antônio Lopes (jornalista) e Jolisson do Rosário (bancário)
terminou por abortar o projeto, mantido até hoje numa pasta azul num local de destaque
em sua biblioteca.
Ao saber da história, o confrade fundador da Confraria d’O Berimbau junto com Tedesco,
Tyrone Perrucho, alertou por qual motivo não teria incluído o Comandante de Longo Curso
na organização e planejamento da circunavegação das sete ilhas de Canavieiras. Para
Tyrone, é muita ciência para tão pequena expedição que, mesmo por toda sua importância
histórica, ficaria a cargo de marinheiros mais afeiçoado ao rio Pardo e seus afluentes.
Voltando à viagem, o condutor da lancha fez um percurso perfeito por entre os canais dos
mangues até chegar a Belmonte, trazendo-os de volta no domingo pela manhã, com a
maré bastante favorável. A única baixa – se é que assim pode ser chamada – foi um mal-
estar nos brônquios do Comandante de Longo Curso, após o minucioso estudo das
navegações, que consumiram muitas horas aos livros e enciclopédias guardados desde
crianças e tomado pelos fungos.
Mas uma missão como essa de tamanho significado não teria a mesma importância não
fosse a missão dos nobres viajantes, que deixaram, num sábado ensolarado, uma
promissora assembleia na Confraria d’O Berimbau, para se dirigir a Belmonte. Somente um
evento do naipe de uma Iniciação na Loja Maçônica União e Sigilo mereceria todos os
cuidados dispensados pelo Comandante de Longo Curso aos irmãos marinheiros de
primeira viagem.
Altruísmo!

 Radialista, jornalista e advogado

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