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MUDAM-SE OS COSTUMES, MAS NÃO É PELA PANDEMIA

MUDAM-SE OS COSTUMES, MAS NÃO É PELA PANDEMIA

Me perdoem os economistas e sociólogos se estou falando muitas besteiras, mas não dá
pra ficar calado com a enorme quantidade de mudanças no comportamento dos brasileiros
nos últimos tempos. Na minha despreocupada concepção, essa alteração não está
acontecendo exatamente por causa da pandemia da Covid-19 e sim, também, em
circunstância da pandemia.
A mais notável dessa mudança – palavra tão em voga hoje – é o trabalho em home office
de alguns profissionais que necessariamente não precisam bater ponto na sede da
empresa todos os dias da semana. Outros profissionais terão que se apresentar
diariamente no horário aprazado, como fazem seus colegas desde a antiguidade, desde o
tempo em que Adão era inspetor.
Pra mim, nenhuma novidade! Esse é um costume que vem sendo adotado há anos em
diversos países e no Brasil, em menor escala, haja vista as dificuldades que temos de
comunicação via internet, ainda movida a lenha. Outro motivo mais modesto é a
desconfiança de alguns empresários se haverá o cumprimento da carga horária, o que é
uma sandice. O trabalho em home office privilegia a tarefa confiada.
De qualquer maneira, vem sendo adotada com frequência em empresas com
administrações modernas. Pelo que suponho, tem o lado bom e o ruim para o empregado,
a depender da sua casa e sua família. Imaginemos um dito cidadão com a casa cheia de
filhos, que terão a satisfação de ter o pai em casa o dia inteiro, ainda mais quando não
têm que cumprir as obrigações escolares? Será o caos!
Criança chorando por que o pai não pode lhe dar o carinho, a esposa ou o marido – a
depender de quem cumpre o home office – reclamando da falta de atenção e ajuda em
algumas tarefas, e por aí vai. E não é culpa do vivente se nossos arquitetos não previram
essa necessidade futura e construíram nossas casas sem escritórios, como há muito fazem
os norte-americanos e outros povos do lado de cima do Equador.
Outro próspero negócio é o delivery, atividade-meio que já está comemorando a tal da
melhor idade nos centros urbanos mais avançados e que tem crescido substancialmente
nos últimos tempos. O sair para jantar fora – antes um costume glamoroso – perde feio
para a falta de segurança, a falta de estacionamento, a comodidade de assistir a um filme
nas telas grandes dos modernos aparelhos de TV.
As pessoas religiosas também estão proibidas de participar dos cultos em suas igrejas,
sinagogas, mesquitas e outros templos por causa da pandemia… meia verdade ou
desconhecimento. Não é de agora que padres, pastores, rabinos e gurus oferecem as
cerimônias de celebrações religiosas no conforto do seu lar, bastando para isso um leve
clique no controle remoto da televisão.
Ir ao shopping, antes uma obrigação para as compras ou pelo simples trottoir pelas
passarelas das lojas luxuosas e de olhos nas vitrines, está sendo substituída pelas compras
via internet, com a vantagem de poder trocar ou devolver a mercadoria até sete dias após

se recebimento, caso não goste. Eu como não sou dessas modernidades todas, me recuso
a comprar roupas e sapatos pela telinha do smartfone, pois meus calos jamais me
perdoarão.
Há tempos recuados que a ida ao colégio – notadamente à universidade, como faz meu
neto hoje – não é mais necessária, pois o professor chega, sem a menor cerimônia, no
recôndito do seu lar. No jornalismo – inclusive o televisivo –, de casa você faz sua entrada
ao vivo no rádio e na TV ou envia sua matéria pelo notebook. Foi o tempo em que a dupla
– repórter e fotógrafo – era vista pelas ruas.
Se antes você se esforçava para morar próximo do emprego, agora tire essa preocupação
de sua cabeça, e no dia em que precisar ir à empresa aproveite para fazer um tour pela
cidade em meio ao primeiro congestionamento, apenas para espairecer. Se está cansado
do isolamento social, ponha na sua mente que sempre perto de casa existe bar, bastando,
apenas, escolher um personal boteco do seu jeito.
Não esqueça que essas mudanças estão acontecendo desde que acabou a gripe espanhola
e a segunda guerra mundial, não de forma silenciosa, mas com todos os recursos do
marketing. Talvez você não tenha percebido por ter se acostumado a andar diariamente
distâncias desnecessárias de casa para o trabalho e na volta dar aquela esticadinha ao bar
com os amigos e chegar em casa na boca da madrugada.
Não se transtorne, mantenha a calma que o mundo continuará como antes e, tirando os
pequenos costumes, nem mesmo ao médico você precisará mais ir, basta uma
videoconferência e seu smartfone transmitirá todos os dados sobre sua saúde. A mesma
vida pachorra não posso garantir em relação ao dentista, quando sua dor de dente der o
ar da graça em plena madrugada, nesse caso um destilado quebrará o galho até o dia
seguinte.
Por fim, não esqueça, a economia estável depende da competitividade e as empresas
precisam cortar gastos considerados supérfluos com o transporte, o cafezinho, a água, as
refeições e a energia elétrica do ar-condicionado. Os que podem pagar, por certo
usufruirão de ambientes mais espaçosos. De resto, a pós pandemia se agregará aos
nossos velhos costumes, agora vendidos como novos.
Pelo menos aprendemos a higienizar e lavar as mãos!

Por Walmir Rosário;Radialista, jornalista e advogado

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