MEU DESENCONTRO NO ENCONTRO COM OS CEPLAQUEANOS

Por Walmir Rosário*
Uma das frases mais em voga nos dias de hoje é “quando o cavalo passa
selado você tem que montá-lo”, dando a entender que jamais o indivíduo terá
uma nova oportunidade. E isso aconteceu comigo recentemente e me nego a
aceitá-la como verdade absoluta, como se eu ou qualquer outro ser humano
não tivéssemos obstinação, persistência.
E esses dias eu deixei passar o tal do cavalo selado sem que pudesse montá-lo.
Garanto que não se tratou de uma simples falha, incompetência, mas por
motivos superiores. Não aqueles dados como desculpas esfarrapadas para não
comparecer a compromissos assumidos, mas por excesso de confiança na
sumida temporária da malfadada labirintite.
Eu deveria me apresentar às 11 horas, no Codornas Restaurante, em Itabuna,
para o I Encontro dos Ceplaqueanos da Divisão de Extensão de Itabuna, nesse
colóquio inaugural. Dada a sua importância, todo o planejamento realizado,
bastaria me deslocar de Canavieiras com duas horas e meia de antecedência e
abraçar os velhos e queridos colegas.
Missão abortada, devidamente comunicada por whatsapp, com as devidas
escusas e lamentar minha inusitada ausência, comportamento que não faz
parte do meu dicionário. Mesmo impedido de estar no evento de corpo
presente, mantive o compromisso moral de marcar presença mental, espiritual
torcendo pelo sucesso do primeiro de uma série de eventos que prometem
entrar em pauta.
Mas que os servidores da Ceplac discutiriam nesse encontro, se a instituição
continua no leito de morte, sem direito a atendimento com vistas a recuperar
seus áureos tempos? Tudo. O engenheiro agrônomo aposentado Luiz Ferreira
da Silva anotou em seu livro “A fazenda Corumbá que virou Ciências 60 anos
atrás” que a Ceplac era mais que uma empregadora, era uma religião.
Na mesma obra, Luiz Ferreira cita que seu colega e líder extensionista Ubaldino
Machado movimentava sua turma por meio da palavra parceiro, em moda nos
dias de hoje. Era esse o espírito de corpo implantado na instituição por Carlos
Brandão e “Zé Haroldo”, incutindo em todos a chamada filosofia da
solidariedade.
Do mais simples operário ao titulado cientista, a palavra colega era o
tratamento adequado, pois todos deveriam agir com excelência na sua missão
profissional conjunta. Do operário de campo, passando pelo motorista,
escriturário, comunicador, técnico, aos profissionais mais graduados, tinham
que ser os melhores. E a Ceplac disponibilizavam os meios para tal.
Cada um dos ceplaqueanos carregava consigo o dever de tornar a região
cacaueira um modelo de desenvolvimento e até hoje se sentem orgulhosos com
famosa sensação do dever cumprido. Ainda hoje perdura o reconhecimento
regional sobre a excelente qualidade da formação e desempenho profissional
dos ceplaqueanos, distinção que se estendeu por todas as regiões cacaueiras
do Brasil.
Assim sendo, têm o que comemorar, comentar o dia a dia na instituição Ceplac,
as lembranças das realizações, incluindo aí as dificuldades enfrentadas nas
tarefas em locais inóspitos, as vitórias. A Ceplac não era uma simples
empregadora, mas uma instituição reconhecida e respeitada pelos que fizeram
acontecer na transformação das regiões cacaueiras da Bahia.
Para os mais novos que não puderam acompanhar a missão da Ceplac, vale
lembrar que mantinha os departamentos de pesquisa, extensão, ensino técnico,
e desenvolvimento atuando dentro e fora das porteiras das fazendas. Esse
esforço de inovação tornou possível a implantação da Universidade Estadual de
Santa Cruz (Uesc), ampliando a formação da inteligência regional.
Não fossem os programas da Ceplac, não teríamos o porto do Malhado, tal
como é, os milhares de quilômetros de estradas vicinais, a maior rede de
energia rural, a modernidade na telefonia, em todos os campos do
conhecimento. Estrategicamente, beneficiou todos os municípios das regiões
cacaueiras do Brasil, com escritórios, estações experimentais, todos tocados
com o que tinha de mais inteligente e de alto poder aquisitivo no comércio.
Mas voltando ao encontro dos servidores da Divisão de Extensão de Itabuna,
nada melhor que essa satisfação de bem estar pelo cumprimento das
responsabilidades de antes e o reconhecimento de suas participações. Se por
anos tiveram esse compromisso com a Ceplac, continuam, como sempre, com a
sociedade onde vivem e são distinguidos.
E nada melhor do que viver com dignidade e alegria. No próximo estaremos
juntos, parabenizando a eficiência da organização.
*Radialista, jornalista e advogado