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GUERRA E PAZ, A EMOÇÃO DO FUTEBOL

GUERRA E PAZ, A EMOÇÃO DO FUTEBOL

O futebol é um esporte que sempre mexeu com emoções. Da equipe de um
simples time de várzea ao do selecionado de um país, torcedores dão a vida –
se preciso – pela sua agremiação. Mesmo hoje, que o futebol é um esporte que
mexe com bilhões, as torcidas seguem seus times, apesar dos ingressos com
preços estratosféricos e a falta do amor à camisa, como dantes.
De há muito o futebol é um esporte apaixonante em praticamente todos os
países deste mundo e, quem sabe, dia desses consegue ultrapassar o futebol
americano, beisebol e o basquete, nos Estados Unidos, e o críquete, nos países
de descendência e influência inglesa. Mesmo sendo um dos apaixonados pelo
futebol, não sei a influência dele sobre nosso emocional.
Também pouco importa. O que quero mesmo é ver meu time ganhar, ser
campeão. Sinto bastante quando minguam as vitórias, escapam as
classificações, ficamos de fora da final de um campeonato. E vou avisando: não
tolero ser vice, apesar de muitos elogiarem a segunda posição. E ainda por
cima afirmarem que é o melhor depois do primeiro. Não concordo.
Pelo dito até agora, os que passaram os olhos por essas mal traçadas linhas já
devem ter desconfiado que sou torcedor do Botafogo. Botafoguense com muito
orgulho, persistente até não acabar mais. Não posso deixar de lado o bordão
“tem coisas que só acontecem com Botafogo”, pois é verdade aqui e no
Uruguai, mesmo sem termos culpa no cartório.
Imaginem o Brasil declarar guerra ao nosso vizinho do Sul, que já foi nosso, e
sempre se rebela contra nós. Pelo tamanho do seu território não suportaria um
confronto armado, mas que sempre provoca. Pelas minhas especulações, esses
uruguaios acreditam que como ganharam de nós em 1950, ainda num
Maracanã cheirando a tinta, teriam a obrigação de nos massacrar até hoje.
Tenho certeza que a culpa de tudo isso é do nosso ordeiro povo brasileiro, que
não os repeliu com veemência naquela copa do mundo. Em 1950, os uruguaios
venceram apenas uma copa, não uma guerra, mas queriam o “botim”, como
nos bons tempos da Roma antiga, fazendo dos vencidos escravos, serviçais. Se
estou certo nas minhas convicções estudaram a história de forma errada.
Gosto muito do Uruguai, dos seus vinhos, carnes maravilhosas preparadas nos
braseiros, das cidades tranquilas, incluindo Montevidéu. Mas não gostei nada da
guerra particular que tentaram empreender contra o Botafogo. Costumo ouvir
dizer que os cisplatinos têm sangue quente, não toleram perder, ainda mais no
futebol. E por 5X0, então, queimou o churrasco na Libertadores da América.
Não tenho certeza, mas ao que me parece, esses uruguaios são desinformados.
Como não conhecer o poderio futebolístico do Botafogo? Ora, deveriam ter
dado graças a Deus por não ter tomado uma goleada de nove, dez a zero,

daquelas que o Botafogo aplicava contra o Flamengo. O pecado cometido pelos
cisplatinos foi querer comparar o Botafogo com o Flamengo que eles
despacharam.
Mas nada do que fizeram se justifica. Um papelão horrendo! Sabiam que não
seriam punidos por ameaçar os brasileiros – torcedores do Botafogo – que
como turistas costumam encher o Uruguai de dólares todos os anos. Confiavam
no ombro amigo da Conmebol, onde choraram suas pitangas e ganharam
amparo e afagos.
Como botafoguense não sou torcedor de reclamar de pouca coisa. Tenho o
couro cascudo desde a velha rivalidade entre as seleções de Ilhéus e Itabuna,
ainda nos tempos em que reclamávamos dos paus e pedras jogados contra nós
quando passávamos em baixo do viaduto Catalão ou no estádio. Também
íamos à busca da forra, dentro e fora de campo.
Não posso esquecer que no futebol também se faz amigos, e muitos. Um caso
clássico é o que aconteceu na África, em 1969, quando o Congo e a República
Democrática do Congo silenciaram as armas durante uma guerra, para que o
Santos de Pelé pudesse cruzar o país para jogar nos dois lados da fronteira. E
não foi só isso.
No mesmo ano, durante a guerra entre a Nigéria e a separatista Biafra, o
Santos jogou em Benin. Para que isto acontecesse, os dois antagonistas
decretaram feriado, bem como o cessar fogo, para que o Santos de Pelé se
apresentasse. Acredito que os uruguaios faltaram essa aula de história das
guerras africanas e deixaram o professor na sala falando sozinho.
Mas vamos ao que interessa, o Botafogo jogará nesta quarta-feira contra o
Peñarol no estádio Centenário, apesar das ameaças. Eu não recomendo e nem
apostaria um centavo na vitória do Peñarol. O Botafogo só precisa de muita
calma nesta partida para não entrar nas provocações e sair de Montevidéu com
outra vitória e se preparar para depenar o galo.
A melhor arma do futebol é fazer a bola entrar nas redes adversárias.

WALMIR ROSÁRIO

*Radialista, jornalista e advogado

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