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GENTE DE ITABUNA É OUTRO NÍVEL, É GRAPIÚNA

GENTE DE ITABUNA É OUTRO NÍVEL, É GRAPIÚNA
  • Geral
Itabuna completa 112 anos de emancipada

Por Walmir Rosário*

O grapiúna é um povo diferente! Baiano, sim, mas com suas especificidades, o seu jeito
de ser! Um povo novo, que nestas terras do sul da Bahia começou a chegar no final do
século 19. Não vieram em busca de riquezas, mas fizeram uma terra rica. Fugiam da seca
e aqui encontraram água em abundância e trocaram a terra esturricada por um solo fértil
para plantar os cultivos de subsistência. Foram além, formaram as roças de cacau.
Assim eram os sergipanos que trocaram seu torrão natal pelas terras inóspitas do sul da
Bahia e aprenderam a conviver com outro tipo de dificuldade: a fechada Mata Atlântica, os
bichos selvagens, os índios e as doenças insalubres. Quanto mais passavam por novas
atribulações, mas crescia a vontade de vencer no novo eldorado, e para aqui trouxeram as
famílias parentes e aderentes.
Em pouco tempo, todo o sacrifício foi sendo recompensado pela fartura de alimentos,
pelos recursos auferidos com a venda das primeiras safras do cacau, que após colhido e
seco era vendido a peso de ouro. Trabalhavam do nascer do sol ao aparecimento da lua,
formando as cabrucas, plantando as semente de cacaueiros com a ponta do facão. E os
resultados eram vistos a olhos nus e repassados aos povoamentos civilizados.
Como nos mostra a história, a força do trabalho gera dinheiro e novas oportunidades que
atraem outros povos. E eles vieram de todas as partes do mundo, criando uma “torre de
babel”, nas quais as linguagens se misturavam e todos se entendiam. Eram gente de
terras distantes, os alemães e suíços em busca do cacau; os árabes – aqui chamados de
sírio-libaneses, numa união que deu certo – vendendo de porta em porta.
Também vieram levas de oportunistas para disputar as fartas notas de quinhentos que
diziam serem usadas para acender os charutos dos novos-ricos do cacau nas noitadas das
recém inauguradas boates da próspera Tabocas, que gerava a magnífica Itabuna em seu
ventre. Objeto de ficção e ideologia – ou não – a vila se tornou rica (perdoem o
trocadilho) e recebia a todos com a mesma distinção.
E essa gentileza permanece nos dias de hoje, oferecendo mimos e oportunidades aos que
aqui chegam, como se fossem nossos velhos e grandes amigos. Nem sempre dá certo, é
verdade, mas, na maioria das vezes, o acolhimento resulta em mais um para a confraria. E
essa diversidade de raças e credos ultrapassou a nascente Taboca, a grandiosa Itabuna e
criou a gente Grapiúna, alcançando o status de nação.
Chegou o Estado para regular as atividades, cobrar os impostos e nem sempre retribuídos
em custeio e investimento das riquezas que tomou. Em pleno crescimento, os novos-ricos
precisavam satisfazer suas necessidades, a classe média e os mais carentes do serviço
básicos. Sem representação política, o imposto do cacau era devorado na capital e outras
regiões pela elite econômica e política, sem a menor cerimônia.
Elevados ao posto de Coronel da Guarda Nacional ou simplesmente por suas posses, os
grandes comerciantes e cacauicultores contribuíam com seus próprios recursos para
melhorar e desenvolver a cidade. Nos conta a história de reuniões noturnas nas casas de

alguns deles, na qual decidiam qual rua calçar ou ampliar a iluminação elétrica, dividindo o
custo da obra entre eles.
Mas nem tudo era bonança nesta terra grapiúna. O Estado não fazia garantir a segurança
dos munícipes e eram comuns as invasões de terras, geralmente as mais férteis e
plantadas com cacau e as desavenças entre os citadinos. E os culpados se abrigavam nos
fartos guarda-chuvas dos líderes políticos, aos quais nem sempre eram alvos dos rigores
da lei, pelo contrário, muito bem apegados aos benefícios dela.
Mas o itabunense não se abate com miséria pouca, acostumado que está com os reveses
desagradáveis sofridos, seja pela ação humana ou desastres naturais, e sabe como dar a
volta por cima num pequeno espaço de tempo. Se o rio Cachoeira inunda, seu povo vê
essa catástrofe como uma oportunidade de ajudar os desabrigados e reconstruir as áreas
fortemente atingidas quantas as vezes for necessária.
Se a economia chega ao fundo do poço, vai em busca de novos parceiros, refunda o
comércio, a indústria, os serviços e faz os recursos financeiros circularem com
normalidade. Se o político não cumpre o que prometeu, sem cerimônia coloca-o na
“geladeira” per omnia saecula saeculorum. Tanto é assim que em 28 de Julho de 1910
Itabuna separa-se de Ilhéus, sem perder a amizade, e vive feliz por 112 anos.
E faz tudo isso sem perder a embocadura, comemorando seus feitos nos muitos botecos
da cidade. É vida que se segue. Portanto, se você conhece uma gente com esse perfil,
pode botar fé, é grapiúna, com certeza!

*Radialista, jornalista e advogado

Foto:Pedro Augusto

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