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DOS VELHOS CARNAVAIS AO COVID-19, UM BAILE DE MÁSCARAS (Walmir Rosário)

DOS VELHOS CARNAVAIS AO COVID-19, UM BAILE DE MÁSCARAS (Walmir Rosário)

Que eu me lembre mesmo, as máscaras eram vestimentas de bandidos que procuravam
esconder o rosto para não serem reconhecidos nos assaltos, conforme víamos todos os
domingos nos velhos filmes de faroeste. A maioria dos assaltantes usavam as de cor
preta, ou negra, como queira, embora alguns mais refinados exibiam as coloridas,
estampadas, em tecido de seda. Um luxo só!

E não é que as máscaras voltaram à moda e qualquer cidadão que se preze usa a sua
para as famosas saidinhas, as escapadas de casa, um simples bordejo pelas ruas para
verificar se ainda existe vida fora do ambiente doméstico. Acredito que muitas dessas
pessoas são da minha idade e assistiram aos mesmos filmes americanos que eu, ainda nos
saudosos bons tempos.

Como não gosto de bisbilhotar a vida dos outros, fiquei com receio de perguntar em quais
artistas se espelharam ou se existe um costureiro, modelista – me desculpem pela
deselegância – ou personal stylist que o orientam. Pelo que notei, a moda mudou de lado
e passou a compor os mocinhos e mocinhas, ao contrário dos malfeitores que assaltavam
bancos e diligências.

Pelo que li num grande portal, a máscara se tornou uma indumentária obrigatória, como o
chapéu ou o paletó antigamente. Algumas são concebidas em Paris e Milão embora não
deixem de ser copiadas por aqui, numa obediência aos padrões chineses de desrespeito à
propriedade intelectual. São tecidos dos mais diversos preços, de bolinhas, cores
psicodélicas, no estilo jeans e até mesmo com a imagem do herói preferido.

Na minha leitura sobre o uso das máscaras não chegou a se esmerar no estilo, mas traçou
alguns conceitos de proteção que, infelizmente, não agradou em cheio a alguns
descolados ou teimosos. Hoje é mais que corriqueiro vermos máscaras que não protegem
o nariz e nem mesmo a boca, deve ser algum look nostálgico de Woodstock revelando
toda a sua rebeldia.

Como ensinava o Abelardo Chacrinha, nada se cria tudo se copia. Como bom observador,
fico cá pensando se esse Covid-19 teimar em ficar mais uns anos por aqui, reeditaremos
as máscaras de todos os saudosos carnavais, quiçá não buscaremos inspiração no antigo
Egito e passaremos a desfilar de múmias dos faraós, ou quem sabe as orientais para nos
afastar dos maus espíritos.

Quem sabe daremos uma passadinha pela Grécia e reeditaremos o famoso teatro grego
como se estivéssemos interpretando dramas e tragédias. Essas máscaras vestiriam muito
bem o personagem representativo da tragédia pandêmica que estamos vivendo e sem
hora marcada para a peça acabar. Para os mais refinados, nada como o tradicional estilo
Bal Masqué para extravasar os seus impulsos reprimidos e libertadores.

Os que preferem segurança 100% por certo adotarão a máscara no estilo protetor facial
móvel, fabricada em acetato, de fácil higienização, protegendo a máscara tradicional.
Acabada a pandemia, os mais criativos poderiam participar de programas de televisão e

ainda ganharia alguns milhões desfiliando nas passarelas de Faustão, Sílvio Santos e
Luciano Hulk mostrando seus modelitos.

A criatividade do homem não tem limites e o que foi concebido como uma simples e
eficiente proteção contra os vírus se tornaram objeto de ostentação, enfeites e adorno da
face humana. Fácil mesmo seria para nossos marqueteiros reviverem fantásticas peças
comerciais baianos produzidos pelas Ótica Ernesto, jornal A Tarde, Tio Correia e
Supermercados Unimar, lembrando as máscaras carnavalescas de Clóvis Bornay e Evandro
Castro Lima.

No campo jurídico, as máscaras desfrutaram de notoriedade nacional ao ser questionada
no Supremo Tribunal Federal (STF) se poderia ou não vestir (ou esconder) os rostos nos
carnavais, manifestações e protestos. Discussões constitucionais à parte, sei que os
temidos grupos de black blocs não deram a mínima para as proibições, no que foram
seguidos pelos carnavalescos. A máscara acima da lei!

Saudosista que sou, confesso que nunca liguei muito para as máscaras, a não ser nos
tempos em que ainda menino lá no bairro Conceição, em Itabuna, quando resolvíamos
brincar de cowboy, em que tínhamos que atirar nos mascarados. Fora disso, ainda
recordando, àquela época, pra nós, mascarados de verdade eram aqueles colegas
arrogantes, “metidos a besta”, que comiam cuscuz e arrotavam caviar.

De pronto, garanto que não sou orgulhoso, mas me senti o máximo ao adentrar pela porta
giratória do banco com minha máscara fabricada em tecido jeans sem ser importunado
pelo segurança de olhar vigilante. Só me faltou mesmo uma cartucheira com dois
revólveres Colt 45 niquelados e tal e qual um artista de Hollywood ordenar em alto de
bom som: “Mãos ao alto”! Seria a glória pros meus tempos de menino.

Foto;Divulgação

Walmir Rosário;Radialista, jornalista e advogado

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