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BEL, O CRAQUE DO PASSE MILIMETRADO Por Walmir Rosário

BEL, O CRAQUE DO PASSE MILIMETRADO  Por Walmir Rosário

No futebol amador de Itabuna tivemos craques à mancheia, como diria nosso conterrâneo
Castro Alves. Cada um na sua especialidade. Desde os goleiros que “abriam as asas” e
fechava a área; os pequenos zagueiros e laterais que subiam mais que os grandes
atacantes; os clássicos que não faziam faltas (à vista do árbitro); os meio campistas que
desarmavam e construíam; os atacantes que faziam muitos gols.
Mas hoje vamos lembrar de um meio campista especial: Bel, batizado Abelardo Brandão
Moreira, que iniciou sua carreira no futebol amador muito cedo, ainda meninão, isso pelos
anos 1963, quando aportou de vez em Itabuna, vindo de Itajuípe. O garotão bom de bola
encantava – também – pelo seu comportamento junto aos craques já estabelecidos. Era
um boa praça, um menino com pinta de craque.
E exibia seu bom futebol nos campinhos de pelada de Itabuna, despertando a atenção dos
futebolistas. Estudou e se diplomou na modalidade de futebol de salão, dominando, não
só a bola, mas o jogo, para a alegria da torcida. Nem me lembro mais quantas vezes
fomos campeões pelo Colégio Estadual de Itabuna, no qual estudávamos o ginásio. Antes
de qualquer reclamação, aviso, de pronto, que eu era um jogador medíocre, mas estava
lá.
E foi o futebol de salão (hoje Futsal) que deu régua e compasso a Bel, credenciando-o a
brilhar nos campos de futebol de Itabuna e região, com toda a desenvoltura que Deus lhe
deu. Não escolhia o melhor campo para jogar, mas tinha inteligência suficiente para
superar as dificuldades dentro das quatro linhas (isso quando era marcado), se desviando
dos buracos, da grama malcuidada e dos adversários.
No meio campo era um maestro, e foi assim por onde passou. No velho campo da
Desportiva, não importando o time por qual jogava, estava ali cercado dos melhores
craques de Itabuna. Exibia seu estilo com desenvoltura, aproveitando a força da juventude
com a qualidade do futebol que sabia praticar. Incorporou seu estilo de jogo no pequeno
campo de futebol de salão, adaptando-o ao campo oficial de futebol.
E Bel Jogava com precisão. Não sei em quem ele se espelhava, se no futebol exibido por
Didi ou, quem sabe, Gérson o canhotinha de ouro, na casa sagrada do futebol brasileiro, o
Maracanã. Não precisava correr em campo. Com elegância, fazia a bola circular em passes
curtos ou longos, a depender do andamento do jogo e da posição de seus companheiros
em campo, surpreendendo os adversários.
Embora não precisasse correr em campo, como um bom meio campista sabia se antecipar
ao adversário para matar uma jogada e construir as condições necessárias para facilitar a
entrada dos colegas atacantes e marcarem os gols. Muitas das vezes, ele mesmo se
encarregava de estufar a rede adversária. Defendia, atacava, marcava gols, o que
demonstrava sua capacidade de dominar os espaços no gramado.
A competência demonstrada em campo foi essencial para sua convocação para a Seleção
Amadora de Itabuna, a hexacampeã baiana que enchia os olhos dos expectadores e

ouvintes das narrações esportivas da época. E passa a atuar naquele escrete de ouro,
onde a concorrência de craques era a maior da Bahia. Entrava um e saia o outro sem que
a qualidade do jogo sofresse qualquer alteração negativa.
Surpreendia-me os passes de longa distância encaminhados por Bel. Eram na medida
exata, e quem o recebia não precisava se esforçar, esticar a perna ou dar um grande
impulso para cabecear. Ele chegava na medida certa, bastava um maneio de cabeça, uma
matada no peito, uma emendada com o pé para que chegasse ao seu destino: o gol
adversário. Mesmo não entrando nos três paus, dava a sensação e o grito abafado de gol.
Até hoje nunca perguntei a Bel como ele aprendeu a despachar a bola com tanta
elegância e fidalguia. Às vezes me dá a impressão que antes ou depois dos treinos ele saia
com uma fita métrica medindo as distâncias e idealizando a potência dos passes. Precisão
milimétrica disparada pela força das pernas e o jeito do pé, como vemos hoje com a
tecnologia disponível aos mísseis teleguiados.
Com a criação do Itabuna Esporte Clube, em 1967, Bel foi um dos primeiros a se
profissionalizar e mostrar seu futebol para novas plateias. Se antes jogava ao lado de
craques feitos em casa, passou a conviver e atuar com jogadores vindos do Rio de
Janeiro, São Paulo e outras grandes praças esportivas, o que lhe garantiu um maior
conhecimento do futebol.

Bel na seleção de 1967

Em seguida, foi jogar em Ilhéus, atendendo a insistentes convites feitos por amigos. Na
vizinha e rival cidade continuou jogando o seu futebol arte, encantando aos que ainda não
o conheciam. Uma certa feita estava no Rio de Janeiro, quando se encontra com Pinga,
seu colega de seleção e Itabuna profissional e vão a um teste no Botafogo carioca. No
treino, marcam cinco gols, três de Pinga e dois de Bel, que resolveu voltar a Itabuna.
E todo o conhecimento de futebol adquirido nos campos por onde jogou foi transferido
para a garotada, atendendo a um convite de João Xavier, diretor da AABB de Itabuna.
Também jogou e treinou várias seleções de veteranos de Itabuna, exibindo-se para uma
geração mais jovem, que não conheceu o futebol arte. Pra mim, Bel e outros craques
deveriam mostrar aos de hoje, o futebol eficiente e elegante do passado.

Radialista, jornalista e advogado

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