AUTÓGRAFO NA CACHAÇA, QUALIDADE PERSONALIZADA Por Walmir Rosário

Confesso que do alto dos meus bem vividos setenta e tantos janeiros já vi muita coisa
nesta vida, mas sempre me surpreendo com algumas novidades a que somos
apresentados nos dias atuais. É uma simples constatação de que por mais conhecimentos
que temos, sempre existe uma novidade a presenciar, não simplesmente por ouvir dizer,
mas ao vivo e em cores, como afirmava aquela propaganda televisiva de recuados anos.
E vou logo dando uma pista para não amolar o prezado leitor: o que vou citar é costume
antigo, praticado por gente famosa, acostumada a fazer sucesso com determinadas
atividades, quase que exclusivamente artística. Pelo que sempre vi, esse hábito era para
quem cantava, tocava instrumentos, atuava nos palcos de teatro, filmes e novelas. Mas
teria que fazer muito sucesso.
O assédio era total em determinados artistas, tanto que eram formadas filas enormes nas
saídas das emissoras de rádio e TV e as multidões de fãs conseguiam furar os bloqueios
em busca do tão sonhado autógrafo. Euforia e desmaios eram comuns no passado,
quando uma fã conseguia ultrapassar a barreira de segurança e voltava com o autógrafo
do seu ídolo escrito no caderninho.
Diziam as revistas focadas nas especulações artísticas que muitas dessas multidões eram
“fabricadas” pelas próprias gravadores e agentes dos artistas para dar uma mãozinha na
carreira de sucesso que viria a acontecer com mais rapidez. Lembro até de um português
cujo troféu buscado não era o simples autógrafo, o que lhe satisfazia era beijar a pessoa
famosa, fosse homem ou mulher, daí seu apelido de beijoqueiro.
Com o tempo, vimos diminuir esse interesse pelos autógrafos, até porque ninguém – ou
quase nenhum vivente – tem o velho costume de carregar lápis, caneta ou um pedaço de
papel nos bolsos ou bolsa. Coisa do passado que não volta mais. Agora – há cerca de 15
anos ou mais – o costume é foto do tipo selfie, lado a lado do famoso de estimação. Basta
publicar instantaneamente nas redes sociais e cruzar o mundo em um segundo.
Alguns artistas têm ojeriza à multidões – inclusive de fãs – e dão um jeitinho de não se
aproximar das legiões de tietes, seja por uma logística competente ou mesmo por mau
humor. Outros nem tanto, pacientemente param, acenam posam para as selfies, causando
o desespero de sua entourage. Não critico os que se escusam, pois faz parte do seu modo
de vida, mesmo que dependa do sucesso.
Dia desses vi no You Tube um lançamento de um livro, numa grande livraria de São Paulo,
capital. Uma fila quilométrica, de dobrar quarteirões, em que pessoas aguardavam,
pacientemente, pelo seu autógrafo no livro recém-lançado. O autor em questão era o
advogado e jornalista Tiago Pavinatto, que apresentava sua mais recente obra: Da Silva:
“A Grande Fake News da Esquerda”. Um fenômeno.
Não é todo o santo dia que presenciamos tamanho sucesso, principalmente quando o
centro das atenções é um livro, mesmo sendo o autor um personagem na crista da onda
nas áreas da comunicação e da política. Pelo que soube, algumas pesquisas já creditavam
tamanho apoio na próxima eleição para o cargo presidencial, embora ele sempre negue
pretensão de ingressar nesse meandro.
Pois bem, neste fim de semana me deparo com outro sucesso absoluto em plena cidade
maravilhosa, o Rio de Janeiro. Exatamente no dia 13 de setembro de 2023, uma quarta-
feira à noite, e o local, pelo que soube, era a Academia da Cachaça. Sentado à mesa, lá
estava o meu amigo Eduardo Mello, CEO da Destilaria Engenho D’água, de Paraty,
autografando litros e garrafas da conceituada cachaça que fabrica: a Coqueiro.
Diante de tal cena pergunto pelo whatsapp ao meu amigo Antônio Mello (Neguinho),
irmão de Eduardo, que me descreva a imagem, embora tenha enxergado bem com esses
olhos que a terra um dia há comer. E como resposta, fico sabendo que a cada viagem do
comendador Eduardinho o ritual se repete por uma legião de cachaceiros (consumidores)
de boa cepa, que fazem questão de levar pra suas adegas as garrafas devidamente
autografadas.
Apesar de não ter perguntado, ficou subtendido que não basta ao nobre consumidor desta
iguaria paratiense levar pra casa um produto confiável, mas que também tenha um selo
atestando o padrão de qualidade, afiançado pelo próprio fabricante. Não vejo a hora de
voltar a Paraty para sentarmos à mesa – quem sabe no próprio alambique – para jogar
conversa fora enquanto Eduardinho autografa garrafa por garrafa de Coqueiro.
Com essas preciosidades, mesmo que consuma todo o estoque em tempo recorde – isto
é, antes de retornar a Paraty – posso expor as garrafas como verdadeiros troféus, mesmo
que vazias à espera da reposição de um meu objeto de desejo, sonho de consumo, a boa
cachaça. E digo isso com toda a autoridade de quem participou das farras com a Quero
Essa e o início da produção da Coqueiro no seio da família Mello.
Se a moda pega, Eduardinho tem que se preparar para fortalecer a munheca.
Radialista, jornalista e advogado