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A FORMAÇÃO DE CRAQUES NA ITABUNA DO PASSADO

A FORMAÇÃO DE CRAQUES NA ITABUNA DO PASSADO

Por Walmir Rosário*
Mas qual eram os segredos para Itabuna formar tantos craques? De cara posso
garantir que para um atleta atuar no Campo da Desportiva Itabunense era
preciso passar por um verdadeiro vestibular, nos “babas” disputados em
campinhos dos bairros ou escolinhas de futebol. Aprovado, a partir daí poderia
tentar uma vaga nos times amadores.
Tínhamos, por exemplo, a Academia de Futebol Grapiúna, dirigida pelo
cirurgião-dentista Demóstenes Carvalho, e os times de Adonias da Mangabinha,
de Tim do bairro da Conceição, dentre outros. E os que mais se destacavam
eram convidados a jogar nas diversas equipes aspirantes até chegar ao time de
cima das agremiações amadoras.
E os campinhos de bairro não eram raridades, como hoje! Bastava um terreno
baldio mais ou menos plano, sem muitas pedras, e duas traves. Era assim na
Borboleta (hoje rodoviária); banca do peixe, Escola de Celina Braga Bacelar,
Maravalha, (centro); São Judas Tadeu; campo do Tênis, torre da Rádio
Difusora, Malícia, Brasilgás, Vila Zara, Eucaliptos (bairro da Conceição); Cortume
(Banco Raso) para se submeterem aos olheiros e indicarem futuros craques.
O América da Vila Zara, comandado por Adonias, em 1963, era um dos times
de camisa que forneceu jogadores para várias equipes. Em 1972, o mesmo
América mantinha praticamente a mesma formação, mesclado com jogadores
mais novos. João Garrincha, Dema, Betinho Contador, Zé Nito, Luiz Fotógrafo, e
tantos outros.
Lembrados até hoje nos papos de saudosismo, os craques do passado têm
nome, sobrenome e história a ser contada pelas jogadas memoráveis, tanto nos
campos de pelada como na velha Desportiva. Um desses exemplos são as
escalações da Seleção de Itabuna de 1958 a 1965, quando reinou absoluta no
cenário amador do estado da Bahia. Fora essa saga vencedora, as equipes de
bairros (ou várzea, como queiram), ainda reinam absolutas na memória dos
torcedores.
Eu costumo usar uma frase dita pelos veterinários: “de mamando a caducando”,
que se encaixa bem na velha prática do futebol, quando os escolhidos para
formar o time (ainda na base do par ou ímpar, para escalar primeiro) eram pela
eficiência, meritocracia. Pouco importava se menino ou homem-feito, tinham
que ter as qualidades para jogar em determinado campo e decidir a partida.
Isso era fundamental para jogar num time de camisa.
Enquanto nos campinhos o jogo era na “paeta” (descalço), nos times de camisa
se jogava de chuteiras, fabricadas por sapateiros especializados, como

Lauzinho, ali na rua Silveira Moura, no bairro da Conceição, ex-jogador do
Botafogo de Rodrigo e exímio profissional, dentre outros que competiam para
fabricar os melhores produtos.
E jogar de chuteiras era preciso uma adaptação, pois elas eram feitas de acordo
com a posição em o futuro dono jogava: macia para atacantes e rígidas para
zagueiros. Já as travas poderiam ser de sola grossa ou alumínio, a depender do
tipo de jogo, mais alta ou mais baixam de acordo com o clima e a característica
do jogador – ou de maldade, segundo os comentários da época.
Uma coisa era certa: todas as chuteiras eram pretas, algumas com uma ou
duas listras brancas, porém jamais cor-de-rosa rosa choque, amarelo
alaranjado, pois eram feitas para proteger o pé e aumentar a potência do
chute, nunca para aparecer. O mesmo acontecia com o corte dos cabelos, em
maioria o de “soldado americano” e, de quando em vez, um maracanã para o
encanto das moçoilas casadoiras. Definitivamente, não era o tempo de Neimar!
Mas, trejeitos e modas à parte, o que valia era pisar no gramado e dar conta do
recado. Jogador bom era o eficiente e produtivo. Não podia ser “manioso” ou
“vedete”, para não cair em desgraça e ser olhado de soslaio pelos “cartolas”.
Assim era no Flamengo de José Baliza, ou no Botafogo do bairro da Conceição
de 1976, que mesclava atletas mais experientes como Neném, à garotada do
tipo de Bilo e Paulo Roberto. No mesmo time jogavam Danielzão, Pelé Cotó,
Romualdo Cunha e os garotos João Garrincha, Beguinho, Alterivo e Douglas.
Naquela época, o número de jogadores era tão abundante, que os “cartolas”
ainda se “davam ao luxo” de formar uma seleção regional, tendo como base os
jogadores do bairro da Conceição. Essa seleção excursionava pelas cidades
vizinhas, acumulava vitórias e títulos, dada a altíssima qualidade dos jogadores
como: (em pé, a partir da esquerda) Faruk, Vitor Baú, Sílvio Sepúlveda, Pedro
Mangabeira, Lauzinho e Guaraí; agachados Lane, Pedrinha, Juca Alfaiate,
Macaquinho e Dioclécio (foto acima).

venceu Itapé por 3X2, gols de Juca Alfaiate, 2 e Lane 1.

*Radialista, jornalista e advogado.

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