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QUANDO O SUCESSO NÃO DETERMINA A LONGEVIDADE

QUANDO O SUCESSO NÃO DETERMINA A LONGEVIDADE

Por Walmir Rosário*
A tradição brasileira não recomenda a longevidade das instituições nacionais,
mesmo que tenham uma gama de serviços prestados, devidamente
comprovados, a exemplo da vetusta Ceplac. Convenhamos que comemorar 68
anos de existência é um feito um tanto, se ainda dispusesse do vigor de tempos
pretéritos, quando exibia suas qualidades na área científica – pesquisa,
extensão e ensino –, notadamente da cultura cacaueira.
O peso de anos é visto a olhos nus. Sua sede regional no sul da Bahia ainda
ostenta as enormes construções de concreto aparente, um pouco carcomidas, é
claro, mas com muitas histórias para contar. Ali está sediado o outrora maior
centro de pesquisas de cacau do mundo, repleto de cientistas, pesquisadores
de especialidades variadas, extensionistas, educadores, administradores,
biólogos, engenheiros florestais, economistas, sociólogos, a elite regional.
A cada ano, em 20 de fevereiro, o aniversário era comemorado com festejos mil
para exaltar o cumprimento das metas e o planejamento das próximas. A velha
e decadente lavoura se tornou sadia, produtiva e batia seguidamente recordes
de produção e produtividade. Neste período, a cacauicultura ganhou novas
tecnologias e a região cacaueira da Bahia viveu a transição para o
desenvolvimento.
Em cada cidade um escritório local, com engenheiros agrônomos e técnicos
agrícolas estimulando e transferindo tecnologia, uma revenda de insumos
agrícolas, enfim, toda uma estrutura administrativa. Em determinados pontos
estratégicos foram implantadas as Emarcs (Escola Média de Agricultura da
Região Cacaueira), além de estações experimentais, que cuidavam do
acompanhamento das pesquisas.
Em seguida, o pujante órgão do cacau (como era chamado), assumiu parte do
desenvolvimento regional, construindo o porto de Ilhéus, melhorando estradas
vicinais, ampliando e implantação energia elétrica, telefonia, construindo
escolas. Tornou-se um Estado dentro do Estado, este, o ente federativo,
proporcionando uma visível melhoria na qualidade de vida da população como
um todo e não apenas dos proprietários e trabalhadores da atividade cacaueira.
Até então a Ceplac – por incrível que pareça – era um órgão do Ministério da
Fazenda. Com o passar dos anos e dos governos, a instituição cacaueira foi
atrelada ao Ministério da Agricultura e teve que se adequar à nova realidade. Já
deixara a condição de um órgão criado para a recomposição de dívidas dos
cacauicultores e recuperação da lavoura para gerir apenas a pesquisa, extensão
rural e ensino técnico.
Semanas atrás, numa crônica, publiquei a ação de grupos sem-terra que
invadiram a Estação Experimental Lemos Maia, em Una, e outras duas (Joaquim
Baiana, em Itajuípe, e a do Extremo Sul, em Itabela) já tinham sofrido esse
dano. De quando em vez recebo telefonemas e mensagens de ceplaqueanos e
pessoas de várias cidades reclamando do abandono do patrimônio da Ceplac.
As mais recentes foram do Escritório Local de Santa Luzia (Bahia) e de Jaru
(Rondônia). Num vídeo à disposição na internet, o vereador de Jaru, Chiquinho

do Cacau, mostra o prédio abandonado, cheio de lixo e mato, totalmente
abandonado. E ele conclama a sociedade para que defenda a instituição, que
foi e ainda pode ser muito importante para a economia de Rondônia.
Na publicação o vereador Chiquinho do Cacau, pergunta: “O que queremos
para a Ceplac?”. E Ele mesmo cita a grande riqueza gerada pela Ceplac na área
de pesquisa e extensão, ressaltando o seu patrimônio humano. “A Ceplac
precisa de ajuda para continuar trabalhando, apresentando resultados, mas o
que vemos é uma falta de respeito ao produtor rural”, reclama.
Um dos exemplos do abandono dos escritórios locais – fechados por falta de
pessoal – podia ser visto em Itabuna. O prédio que abrigava a divisão regional
e a extensão local, uma verdadeira obra de arte da arquitetura, ficou
abandonado por muitos anos. Agora passa por obras, e pelo que soube, será
cedido à Prefeitura de Itabuna. Antes estava sendo ocupado por viciados.
O de Canavieiras, há mais de 10 anos teria o mesmo destino, repassado à
Prefeitura. Não sei o motivo dos empecilhos, o certo é que a cessão deu errado.
Atendendo ao pedido do prefeito Almir Melo, elaborei um memorial sobre a
péssima situação do prédio, relatando a situação com testemunho fotográfico,
mas a Superintendência de Patrimônio da União não chegou a concretizar a
transferência.
Agora, em setembro deste ano da graça de 2025, o prédio tem outro
pretendente. Desta vez o candidato é o Instituto Chico Mendes de Conservação
da Biodiversidade (ICMBio), mas que até agora não recebeu as chaves, apesar
de ser, também, uma instituição do governo federal. Quais os empecilhos
apresentados não se tem o menor conhecimento. E a situação do prédio se
agrava ainda mais.
A realidade é que não existem mais no antigo prédio da Divisão Regional e
Escritório Local da Ceplac, em Canavieiras, sequer um engenheiro agrônomo,
um técnico em agropecuária, um escriturário para atender aos agricultores. O
prédio só não se encontra com as portas fechadas, pois um único remanescente
da área operacional aguarda apenas o dia da tão sonhada aposentadoria para
entregar as chaves.
Esses prédios se apresentam como fortes candidatos à destruição física pelo
envelhecimento e à invasão, devido à atávica imobilidade dos órgãos do
governo federal. Como diz o velho e corriqueiro ditado: “Faça por ti que eu te
ajudarei”. Antes de pedir Deus na causa é preciso uma forcinha por parte dos
órgãos e administradores da União.

*Radialista, jornalista e advogado.

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