Opinião: DIA DO IDOSO! OU DEMSGOGIA,

Neste 1° de outubro, oficialmente celebrado como Dia do Idoso, surge uma questão inevitável: há realmente o que comemorar?
A data, que deveria simbolizar respeito, reconhecimento e valorização àqueles que contribuíram durante toda a vida para a construção da sociedade, muitas vezes é marcada por discursos vazios e por uma realidade dura de abandono, humilhações e desrespeito. Quem criou o projeto para instituir este dia certamente não imaginava que ele se transformaria, em grande parte, em um símbolo de descaso.
Em Itabuna, nomes como Nilza Coutinho e Ornam Lapa Serapião foram pioneiros ao fundar o Sindicato dos Aposentados do Estado da Bahia e, posteriormente, o Conselho Municipal do Idoso. Essas iniciativas marcaram uma época de esperança para os aposentados, oferecendo suporte social, de saúde e jurídico. No entanto, a falta de incentivo e apoio dos governos federal, estadual e municipal acabou inviabilizando a continuidade desses projetos. O resultado: hoje, idosos de cidades como Itabuna e Ilhéus enfrentam dificuldades que vão da exclusão nos transportes coletivos — obrigados a apresentar o cartão eletrônico municipal, em vez do documento oficial de identidade — até a desvalorização de suas aposentadorias.
Além disso, muitos idosos sofrem desrespeito dentro dos próprios lares. Casos de abandono em abrigos, muitas vezes contra a vontade e em plena lucidez, são mais comuns do que se imagina. Em várias situações, essa violência psicológica está ligada ao interesse de familiares em se apropriar dos benefícios previdenciários, prática que deveria ser alvo de fiscalização rigorosa do poder público.
Outro ponto alarmante é a precariedade no acesso à saúde. A maioria dos idosos não consegue manter um plano médico, já que os valores de suas aposentadorias são insuficientes. Uma medida que poderia transformar essa realidade seria a criação de um sistema de saúde específico para idosos, com hospitais exclusivos e políticas públicas estruturadas, nos moldes do que ocorre com o SAMU ou programas nacionais de atendimento de urgência.
Diante desse cenário, a data de hoje não pode ser tratada apenas como festa ou formalidade. É preciso transformá-la em um chamado à ação e à consciência social. O idoso precisa de dignidade, de respeito, de garantias concretas — e não de promessas.
Que os jovens de hoje lembrem: todos, se tiverem a graça da vida longa, serão os idosos de amanhã. E o futuro depende das escolhas e políticas que construímos no presente.
Joselito dos Reis, poeta e jornalista.