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PLÍNIO, UM GOLEIRO COM MUITO AMOR Á CAMISA Por Walmir Rosário

PLÍNIO, UM GOLEIRO COM MUITO AMOR Á CAMISA  Por Walmir Rosário

Plínio Augusto Silva de Assis iniciou no futebol amador de Itabuna jogando pelo Flamengo,
por insistência do amigo e comentarista de futebol Yedo Nogueira. De início não se
entusiasmou pelo convite, pois torcia pelo Fluminense, no Rio de Janeiro e em Itabuna.
Convite aceito, ganhou o futebol da cidade, pela excelente qualidade do goleiro, que fez
uma carreira meteórica e chegou à titularidade do selecionado itabunense, em 1960.

Titular absoluto no Flamengo, no selecionado alvianil Plínio de Assis era o reserva imediato
de Asclepíades, junto com Luiz Carlos. Em 1960, ano do cinquentenário de Itabuna,
finalmente assume a titularidade da seleção. Por muitos anos é convocado para a brilhante
seleção, muitas das vezes alternado com o goleiro Luiz Carlos, de acordo com a escolha
da comissão técnica do selecionado.

De temperamento calmo, Plínio sequer se abalou com um tiroteio durante uma partida em
Ilhéus, e teve a tranquilidade de orientar seus colegas em campo, enquanto a briga corria
solta e os tiros pipocando na arquibancada. Se fora de campo o clima era tenso, entre os
atletas das duas cidades a rivalidade exigia muito para manter o controle, mesmo os
atletas se esforçando para um clima sadio durante a partida.

E Plínio não abria mão de se preparar físico e mentalmente para os jogos realizados entre
as seleções de Itabuna e Ilhéus. E dentre os cuidados tomados, treinar bastante e dormir
cedo para ter um desempenho à altura. Ele sabia que as cobranças de dirigentes e torcida
eram maiores em relação ao goleiro, por existir as possibilidades de partidas melhores ou
piores, daí estar sempre preparado.

Mesmo assim, Plínio não se abalava com os resultados negativos, por estar consciente de
que se tratava de possíveis falhas por contingência da prática esportiva. Na mesma partida
em que poderia sofrer algum frango, também existia a possibilidade de fechar o gol com
defesas inesquecíveis, como na disputa do tricampeonato contra a Seleção de São Félix,
em 1962, um dos grandes jogos em que participou.

Como não existiam àquela época grandes técnicos com táticas de jogo mais elaboradas,
Plínio ouvia com atenção as orientações do cirurgião-dentista Carlito Galvão, Costa e Silva
e Gil Nery, que montavam as estratégias da equipe. Fora de campo, os técnicos davam o
recado, dentro, uma meia-dúzia de jogadores coordenavam o time como um todo, de
acordo com os acontecimentos.

Uma lembrança permanente de Plínio era a atuação de Didi na Seleção Brasileira contra a
Suécia, em 1958, quando o jogador, após sofrer um gol botou a bola debaixo do braço e
se dirige até o meio de campo, pede calma aos colegas e renova os ânimos. Na seleção de
Itabuna quem fazia esse trabalho eram Santinho, Tombinho e Abieser, além do próprio
Plínio orientando os jogadores com sua visão privilegiada em campo.

E assim Plínio de Assis se manteve na Seleção de Itabuna até se sagrar tetracampeão,
título inédito, ampliando em seguida para o Hexacampeonato Intermunicipal por anos
seguidos. Era a época do amor à camisa, na qual os jogadores treinavam a partir das 5 da

manhã, corriam pra casa para tomar café e se dirigirem para o trabalho. Era o sacrifício
que compensava pelo amor e não pela remuneração profissional, como atualmente.

Mas o goleiro, além de bem preparado também tem que ter sorte. No campo da
Desportiva, numa partida disputada contra a seleção de Muritiba, o atacante adversário
cabeceou, Plínio foi vencido e levantou seu calcanhar como último recurso, conseguindo
evitar o gol. Em outra partida, contra o Vasco da Gama, a Seleção de Itabuna perdia por
2X1. Delém estava com a bola na marca do pênalti e Plínio parte para a jogada. Delém
chuta, a bola bate no seu peito e não entra.

E naquela época do futebol de craques a Seleção de Ilhéus era a maior adversária de
Itabuna, até pela rivalidade criada entre as duas cidades, porém não se pode deixar de
citar Muritiba, que fez um timaço e possuía grandes jogadores, a exemplo de Betinho, um
grande goleiro. Estivessem ou não preparados, os jogadores da Seleção de Itabuna
tinham que se superar nessas partidas.

Apesar do ditado de que não há favoritos num clássico, Plínio costumava dizer que
existiam outros “ossos duros de roer”, a exemplo de Alagoinhas e Belmonte. E os jogos
em Belmonte, então, eram famosos. E Plínio contava que certa feita, numa vitória
importante, um político influente na cidade se postou no fundo do gol itabunense, com um
revólver na mão, para evitar que as pedradas pudessem atingi-lo.

Mas após as partidas todas as diferenças eram superadas nas festas promovidas nos
clubes dessas cidades. E no entender de Plínio, essa era a mística do futebol amador,
paixão que não existe mais. E ele sempre dizia que o entusiasmo sequer mais existe até
na Seleção Brasileira, quem sabe, pelo excesso de profissionalismo dos jogadores, tenha
se transformado em apatia, o que não é bom para o esporte.

Naquela época, apesar de ainda ser uma cidade pequena, em número de habitantes,
Itabuna possuía um campeonato amador de muita rivalidade, principalmente entre o
Fluminense, Flamengo, Janízaros, Grêmio e o aguerrido Botafogo do bairro da Conceição.
E Plínio ressaltava que uma partida de domingo na Desportiva era comentada a semana
toda, antes e depois, despertando paixões nos noticiários das rádios e jornais,
incentivando as discussões no trabalho, bares e praças.

E Plínio lembrava com emoção as partidas disputadas no velho campo da Desportiva,
sempre lotada de torcedores. Talvez por isso, sempre lhe dava um friozinho na barriga
quando entrava em campo. E para ele não era diferente se os adversários eram de
Itabuna, Ilhéus, Salvador ou Rio de Janeiro. Eram jogos em que tinham que se superar
das deficiências do preparo físico com um bom futebol. E era isso o que eles mais
gostavam.

Seleção Amadora de Itabuna

Plínio de Assis morreu em 16 de abril de 2019, em Salvador, onde morava e foi sepultado
no cemitério do Campo Santo, em Itabuna, no dia 17.

Radialista, jornalista e advogado

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