ORLANDO CARDOSO, NASCIDO E PERPETUADO PARA O RÁDIO Por Walmir Rosário

Dizem os estudiosos em física e matemática que o raio não cai duas vezes no mesmo
lugar. Até que poderia, mas as probabilidades seriam remotas, ínfimas. Não concordo,
mesmo tendo consciência de que sou, cientificamente, um ignorante nesses assuntos. E
rebato essa tese apresentando prova em contrário, reconhecida e testada em todos os
lugares em que as ondas do rádio de Itabuna alcançaram e fizeram sucesso.
E minha tese, como disse, tem nome e sobrenome, Orlando Cardoso Melo, com 62 anos
dedicados ao rádio. Pelas minhas contas, seriam 63, mas como ele não coloca sua
primeira experiência no currículo, acato a idade radiofônica em questão. E Orlando
desempenha, ainda, com maestria tudo o que criou e fez no rádio, como transmissões
esportivas, apresentação de resenhas, programas musicais, informativos e o que mais
apareça.
E ele chegou ao rádio por acaso. A primeira vez em que o raio (do rádio) caiu foi em 1960,
na antiga Rádio Clube de Itabuna, por obra e graça de Cristóvão Colombo Crispim de
Carvalho, o CCCC, que solicita para que Orlando Cardoso gravasse um jogo imaginário em
seu gravador (de Crispim). Feito o teste, aprovado, foi convidado a narrar uma partida
preliminar do Campeonato de Itabuna. Perfeito para a primeira vez.
Foi convidado a fazer parte da equipe comandada por José Maria Gottschalk, com Gérson
Souza, Crispim, dentre outros. Aceitou. A emissora estava ampliando o quadro do esporte,
com Leovaldo Almeida, Edson Almeida, Geraldo Santos, e Leovaldo e o designou para a
redação da resenha. Perguntou se “batia a máquina”, como a resposta foi negativa,
ordenou que se matriculasse numa escola de datilografia.
Orlando não deu as caras na emissora e continuou seu trabalho na Loja Osgonçalves,
esqueceu a quase nova profissão de radialista, para desgosto de Crispim. Vida que segue,
em 1961 inicia o serviço militar no Tiro de Guerra, sob o comando do então sargento
Paulo. Num desses domingos, ao encerrar a instrução, o sargento anuncia que o radialista
Romilton Teles teria convidado a todos para participarem do programa Show da Alegria,
na Rádio Difusora.
E o raio tornou a cair no mesmo lugar. Romilton Teles anuncia que os atiradores podem se
apresentar com o que sabem fazer de melhor: cantar, dançar, recitar poesia. Um colega
engrena a música Esmeralda e incentiva a apresentação dos demais. Para surpresa da
plateia, Orlando Cardoso se candidata a narrar um jogo entre o Vasco da Gama e o Real
Madri, pois tinha escutado esse jogo no meio da semana, com o gol de Delem.
Assim que recebeu o microfone das mãos de Romilton, Orlando pede a ajuda da galera e
botou o tom fora, até anunciar o gol do Vasco. Se junta aos demais e em seguida é
convocado para voltar à emissora na quarta-feira, para se encontrar com o diretor-geral
Hercílio Nunes. Se apresenta, mas como o diretor estava numa reunião, pede que ele vá
no domingo ao Campo da Desportiva e que chegue mais cedo, pois narrará uma partida.
Chega cedo como aprazado e Hercílio abre a transmissão, anuncia o novo contratado, que
narrará o jogo em conjunto com o titular, Luiz Alves. E cada um narraria o jogo numa
metade do campo, como faziam Jorge Curi e Antônio Cordeiro na Rádio Nacional. Era 26
de fevereiro de 1961. Em meados de abril, o diretor de Broadcast da Rádio Difusora,
Lourival Ferreira, o convoca para assumir o comando das narrações, e sozinho.
No próximo domingo já estreou no Estádio Mário Pessoa, em Ilhéus, transmitindo Seleção
de Ilhéus e Bonsucesso, do Rio de Janeiro. E não parou mais. Apresentou resenhas e
inovou ao criar e apresentar um programa com músicas de Carnaval, só que fora do
Carnaval. Mesmo contra a opinião de Hercílio Nunes, apresentava aos domingos, das 7 às
9 horas, “Carnaval Toda a Vida”, e a primeira música tocada foi “Roubei a mulher do rei”.
Enquanto isso, fazia de tudo para continuar nas duas ocupações, a Osgonçalves e a
Difusora, até quando não deu mais e deixou a loja. Assim que avisou a Hercílio que estava
“desempregado” da loja, recebeu a proposta para apresentar um novo programa, à tarde.
Descansou merecidos 15 dias e passou a apresentar o programa “Discoteca Jovem de
Ontem”, com músicas passadas, que caiu, imediatamente, no gosto dos ouvintes.
E Orlando Cardoso se consolidou no rádio itabunense e regional pela alegria em que
narrava as partidas de futebol e as apresentações dos programas musicais, contando
piadas e mandando os alôs para os ouvintes. Nas ruas e estádios era cumprimentado com
os bordões que criava, era convidado a ir às casas dos ouvintes, e sempre chegava com a
mesma alegria do rádio.
No futebol, criou bordões que fizeram muito sucesso e são lembrados e imitados até hoje.
E os ouvintes iam ao delírio quando ouviam Orlando gritar: “Abrem-se as cortinas e
começa o espetáculo do futebol”, subtraído da ideia de Fiori Gigliotti; “Gol itabunense,
torcida grapiúna”; “O barbante estufou, o escore mudou”; “Ora, ora, ora, agora, (para
informar o horário,”, dentre outros. “Eles apareciam e eu incorporava ao repertório”, conta.
Após vários anos na Rádio Difusora, passa pela Rádio Nacional (ex-Clube) e Rádio Jornal
de Itabuna, até retornar à Difusora, onde até hoje lidera a audiência com o Programa
Panorama 640 (meia quatro zero). Comentam os colegas radialistas, que o programa não
tem mais espaço algum para novas publicidades, o que configura o estrondoso sucesso de
Orlando na Difusora e nas emissoras em que passou.
Em 1984 Orlando Cardoso finaliza sua participação como narrador esportivo, apesar dos
constantes apelos dos ouvintes e colegas para que permanecesse por mais tempo. Narrou
grandes partidas da Seleção Brasileira no Maracanã e no Maranhão; do Flamengo (3) na
decisão do Campeonato Brasileiro contra o Atlético Mineiro (1); e em Campinas, na vitória
do Guarani sobre o Itabuna por 7X1.
E Orlando Cardoso, torcedor do América carioca, sempre foi um eterno apaixonado pelo
bom futebol da Seleção de Itabuna. Foi eleito vereador para dois mandatos de seis anos
(cada) e é uma das pessoas mais populares de Itabuna e região. Aos 81 anos de idade e
62 de radialismo (63 se contar com a pequena passagem pela Rádio Clube), se considera
um homem feliz e realizado com sua família.
Um homem com grandes histórias e que aqui serão contadas em muito breve.
Radialista, jornalista e advogado