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ORLANDO CARDOSO, A FORÇA DO RÁDIO NA CÂMARA Por Walmir Rosário

ORLANDO CARDOSO, A FORÇA DO RÁDIO NA CÂMARA  Por Walmir Rosário

Se o sucesso do narrador esportivo Orlando Cardoso multiplicava a cada dia, assim que
passou a criar e apresentar programas de músicas e variedades, então, crescia
exponencialmente. E a cada vitória da magnífica Seleção de Itabuna no Campeonato
Intermunicipal seu prestígio aumentava, em função do seu amor pela equipe e forma
apaixonada de transmitir as partidas e apresentar os programas.

Orlando Cardoso não apenas narrava o caminho percorrido pela bola e os jogadores, ele
sabia transmitir emoção ao ouvinte, sentimento que se tornava comoção com os gols
marcados pelos craques que comandavam o ataque do selecionado itabunense. Nos
programas de músicas e variedades não era diferente, pois sabia tocar o coração, o fundo
da alma dos ouvintes, com palavras de conforto, carinho e alegria.

Comunicador de palavra fácil (não confundir com Luiz Mendes, o comentarista da palavra
fácil), não precisava empolar o texto, engrossar a voz, forçar o grave. Bastava falar ao
ouvinte como fazia em sua vida normal, manter sua identidade. E assim tocava uma
música, contava uma piada, mandava um alô com bastante intimidade ao amigo. Com isso
ganhou cadeira cativa nas residências, nas empresas, onde quer que estivesse o ouvinte.

E Orlando Cardoso passou a ser um membro das famílias, e não raro recebia convites para
almoços, aniversários, festas em geral. E passou a visitar essas pessoas com mais
frequência, como retribuição ao carinho que era tratado. Certa feita, ao visitar uma
pequena comunidade na área rural, foi recebido por quase toda a população, que fazia
questão de ver pessoalmente o amigo que chegava diariamente pelas ondas do rádio.

Sua popularidade era tamanha que era tratado nas ruas com os bordões que utilizava. Em
vez do tradicional bom dia, era cumprimentado de forma carinhosa: “É gol itabunense,
torcida grapiúna”, ou “O barbante estufou, o escore mudou”. Foi aconselhado a postular
uma vaga na câmara municipal, pois teria mais condições de solucionar os problemas da
comunidade, muito deles reivindicados pelo rádio.

E Orlando Cardoso aceitou o encargo, mas pautou sua campanha de forma
diametralmente oposta aos outros candidatos, sem as costumeiras promessas de fazer e
acontecer, como se fosse o guardião do cofre municipal. De maneira singela, dizia não
prometer nada, a não ser o empenho político, pois como nunca tinha sido vereador, não
sabia com precisão o que poderia realizar, cumprir as promessas.

Os parcos recursos da campanha se destinaram à confecção de santinhos, dentre outras
pequenas despesas inerentes. O sucesso e a confiança obtida no rádio foi transmitida à
campanha vitoriosa. Legislou por dois mandatos de 6 anos e se tornou um vereador
conceituado nos 12 anos em que passou no legislativo. Não barganhou votos, não
negociou favores, mas se empenhou nas reivindicações da população.

Enquanto exerceu os mandatos continuou narrando partidas de futebol, apresentando seu
programa radiofônico com a mesma desenvoltura de antes, distinguindo e separando as
obrigações assumidas com os ouvintes e eleitores. E fazia questão de revelar sua conduta

antes de depois de eleito, com a mesma seriedade que sempre pautou sua vida.
Continuou sendo o Orlando Cardoso alegre, festeiro, atencioso de sempre.

Certa feita o vereador Orlando Cardoso foi procurado por uma pessoa do bairro da
Conceição, onde morava e mora, solicitando seus préstimos no legislativo para propor um
projeto de lei de mudança de nome de rua. Coisa simples, um parente – também amigo
de Orlando e com prestígio no bairro – teria morrido e poderia ser homenageado
emprestando seu nome na rua em que morou por muitos anos.

Sem querer desagradar a pessoa, o vereador Orlando Cardoso agradeceu e disse que se
sentia honrado pela sua escolha e com toda a sinceridade que Deus lhe deu, propôs uma
simples condição. Como a rua já homenageava outra pessoa, ele sugeriu que a
proponente elaborasse um abaixo-assinado subscrito por todos os moradores endossando
a mudança do nome da rua, que ele apresentaria o projeto.

Dois dias depois foi procurado pela mesma pessoa, que agradeceu a atenção do vereador
e pediu que não desse andamento à proposição, pois na primeira casa em que ela teria
visitado era justamente a da família do atual homenageado. E mais, teria tratado a
proponente com aspereza e prometeu ir às vias de fato caso houvesse a mudança no
nome da daquela rua. E não se falou mais nisso.

Nas votações de projetos importantes a Câmara de Vereadores se transformava num
fervedouro, com a movimentação de políticos dos mais variados partidos e bancadas,
representantes do Executivo cabalando votos para a aprovação ou rejeição. Na maioria
das vezes com vantagens eleitoreiras. Nessas ocasiões, o vereador Orlando Cardoso ouvia
a todos com atenção e manifestava seu voto de acordo com a importância do projeto e
sua consciência, sem qualquer alarde.

Ao deixar a política continuou exercendo seu trabalho diário na apresentação de seu
programa, a gravação de publicidade e a divulgação por meio de carro de som, gozando
do mesmo respeito de antes. Até hoje, sempre que no meio político ou na comunicação
alguém tece comentários sobre o comportamento dos vereadores, seu nome é lembrado
como um exemplo a ser seguido.

Radialista, jornalista e advogado

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