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A CARÊNCIA DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O ESPORTE Por Walmir Rosário

A CARÊNCIA DE POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O ESPORTE  Por Walmir Rosário

Pouquíssimos municípios brasileiros podem se orgulhar de planejar e executar políticas
públicas para o setor esportivo. Os programas, por si só não bastam: precisam ser
eficientes e eficazes para contemplar uma população de jovens cada vez mais longe do
direito consagrado no artigo 217 da Constituição Federal: "É dever do Estado fomentar
práticas desportivas formais e não formais, como direito de cada um…”.

E no quesito desporto não há como comparar o antes e o depois da chamada Constituição
Cidadã. Desde antes os colégios públicos mais equipados conseguiam formar atletas nas
diversas especialidades na disciplina educação física em suas quadras poliesportivas. Nada
mais que isso. As prefeituras auxiliavam, quando muito, com um trator na abertura de um
campinho nos muitos terrenos baldios existentes nos bairros.

Fora disso, a população se virava aproveitando a ausência do boom imobiliário. Era
costume uma turma de garotos e homens formados pegar no pesado para dar forma a um
campinho de pelada, ou babas, como queiram. Jogavam descalços, sem uniformes, como
queriam e dava tempo. Era voltar da escola, colocar um calção, chegar ao campo e bater
o par ou ímpar para escolher os times. Um jogava com camisas, outro com torso nu.

Mas o crescimento das cidades deu um basta na brincadeira dos meninos. Os bem mais
aquinhoados financeiramente e que eram associados a clubes continuaram praticando o
futebol como esporte, bem como os participantes dos times amadores. Os excluídos
mudaram de esporte ou deixaram de praticá-los. Outra solução eram os campos que
alugavam horário para as partidas.

Em Itabuna, lá pelo ano 1993, o desportista João Xavier – jogador e dirigente esportivo –,
eleito vice-prefeito, tomou a incumbência de proporcionar à população os benefícios do
esporte, como mandava a Constituição Cidadã. De pronto, escalou José Maria (Nininho, o
Sputnik), ex-jogador profissional e ex-supervisor do Itabuna Esporte Clube para pilotar
importante projeto desportivo.

De início implantaram diversas escolinhas esportivas nos bairros de Itabuna, cujos alunos
participavam das atividades no contraturno da escola formal. Em pouquíssimo tempo,
cerca de 700 crianças já se beneficiavam do projeto nos bairros, orientados por
profissionais oriundos de diversas modalidades esportivas e supervisionados pelos
profissionais de Educação Física do quadro da prefeitura.

E o sucesso do projeto ultrapassou limites e divisas geográficas, chegando em Brasília. De
imediato, a então secretaria federal dos Esportes destacou um técnico para conhecer a
ação. De cara, destinou R$ 600 mil (à época recursos consideráveis) para o
desenvolvimento do projeto. Até hoje as escolinhas dos bairros Santa Inês, São Pedro,
Daniel Gomes, Núcleo Habitacional da Ceplac e Ferradas não viram a cor do dinheiro.
Recentemente, o radialista e advogado Geraldo Borges Santos elaborou um projeto que
poderia resgatar a formação de jovens nos diversos bairros da cidade. De acordo com o
projeto, a prefeitura executaria as ações em parceria com as faculdades e universidades

instaladas em Itabuna e empresas privadas. Para tanto, bastaria recuperar alguns
equipamentos públicos esportivos, a exemplo de quadras e o complexo esportivo que
reúne o Estádio Fernando Gomes e a Vila Olímpica professor Everaldo Cardoso.

Conclui-se, portanto, que a cidade tem uma estrutura básica de equipamentos públicos
voltados para o esporte, grande contingente de jovens ávidos para envolvimento em
atividades esportivas e de atletismo. Tudo isso aliado a uma população que gosta de
esportes, com histórica tradição de sucesso, restando ao Executivo e Legislativo
estabelecerem uma política pública que possa beneficiar a comunidade.

Obstinado, João Xavier apresenta e executa outro projeto esportivo de fôlego: o
Campeonato Interbairros de Itabuna, considerado o maior certame do gênero no Brasil.
De cunho social, mexia positivamente na educação dos jovens e adultos e na economia
desses locais onde os jogos eram disputados. Fortalecia o comércio formal e informal nos
dias dos jogos e autoestima da população, que se unia em torno de suas comunidades.

O Interbairros também atuou na mudança do comportamento das pessoas, que antes
deixavam Itabuna aos domingos para curtir o lazer nas praias de Ilhéus, um verdadeiro
êxodo de pessoas e recursos dispendidos nas viagens. Com a implantação do
campeonato, os times jogavam nos campos de bairro e disputavam a final no Estádio
Itabunão. Praticamente todos os jogos eram transmitidos pelas emissoras de rádio e com
cobertura nas TVs locais. O domingo era, realmente, um dia de festa.

Em 28 julho de 2023 o Campeonato Interbairros de Itabuna completou 30 anos. Criado
para se tornar uma fonte inesgotável do descobrimento de craques, que poderiam ter
chances de jogar em grandes equipes profissionais do Brasil e do exterior, não possui o
mesmo glamour. Apesar de estar em atividade, não chega a movimentar toda a
comunidade dos bairros itabunenses. Quem sabe mereça um upgrade?

Por si só, o Campeonato Interbairros não forma atletas cidadãos, pois seu público-alvo é
formado por jovens formados e adultos. Lembrando do ditado: É de menino que se torce
o pepino”, os poderes executivo e legislativo deveriam ter maturidade suficiente para
evoluir e privilegiar as políticas públicas e não as políticas de governo. Enquanto isso, os
jovens ficam à mercê da sorte, enquanto a marginalidade campeia livremente.

Radialista, jornalista e advogado

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